Cristais da Cidade
Sobre a pinguela o rio Santama eu atravessava,
Via nos campos orvalhados o sol se estender
Metade de mim vivia, a outra tendia a morrer
Minha mãe ordenava:
- Menino anda, vá logo ao armazém e diga
Ao João para mandar uma caixa de fósforos
Ou qualquer coisa que eu possa o fogo acender!
E eu saia descalço pela estrada empoeirada a correr
Sentia um misto de tristeza e alegria por ter assistido
Momento antes, naquele frio, maravilhoso alvorecer.
Logo foices e enxadas espelhavam-se nas encostas
Escarpadas, onde aguerridos homens de todas
As cores, de todas as raças e credos trabalhavam
Para com dignidade a gente sobreviver.
No fim do dia, o mato mais alto cortado e espalhado sobre
A relva murchava, novamente anoitecia e eu pensava
Numa SERICITA de paz que aos poucos se cristalizava.
R J Cardoso
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