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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cadê a esquerda brasileira

Salário máximo


Falta uma oposição de esquerda no país. A última eleição demonstrou que todos aqueles que procuraram fazer oposição à esquerda do governo acabaram se transformando em partidos nanicos. Uma das razões para tanto talvez esteja na incapacidade que tais setores demonstraram em pautar o debate político.
Contentando-se, muitas vezes, com diatribes genéricas contra o capitalismo, eles ganhariam mais se seguissem o exemplo do Die Linke, partido alemão de esquerda não social-democrata e único dentre os partidos europeus de seu gênero a conseguir mais que 10% dos votos.
Comandado, entre outros, por Oskar Lafontaine, um ex-ministro da economia que saiu do governo Schroeder por não concordar com sua guinada liberal, o partido demonstrou grande capacidade de especificação de suas propostas e de seus processos de aplicação. Eles convenceram parcelas expressivas do eleitorado de que suas propostas eram factíveis e eficazes.
Por outro lado, foram capazes de abraçar propostas que outros partidos recusaram, trazendo novas questões para o debate político, como a bandeira da retirada das tropas alemãs do Afeganistão.
Por fim, não temeram entrar em coalizões programáticas como aquela que governa Berlim. Isso demonstra que eles são capazes de administrar e que sua concepção de governo não é uma abstração espontaneísta. Esses três pontos deveriam guiar aqueles que gostariam de fazer oposição à esquerda no Brasil.
Um exemplo de novas pautas que poderiam animar o debate político brasileiro foi sugerida pelo provável candidato de uma coligação francesa de partidos de esquerda, Jean-Luc Mélenchon. Ela consiste na proposição de um "salário máximo". Trata-se de um teto salarial máximo que impediria que a diferença entre o maior e o menor salário fosse acima de 20 vezes. Uma lei específica também limitaria o pagamento de bonificações e stock-options.
Em uma realidade social de generalização mundial das situações de desigualdade extrema -outra face daquilo que certos sociólogos chamam de "brasialinização"-, propostas como essa têm a força de trazer, para o debate político, a necessidade de institucionalização de políticas contra a desigualdade.
Em um país como o Brasil, onde a diferença entre o maior e o menor salário em um grande banco chega facilmente a mais de 80 vezes, discussões dessa natureza são absolutamente necessárias. Elas permitem a revalorização de atividades desqualificadas economicamente e a criação da consciência de que a desigualdade impõe "balcanização social", com consequências profundas e caras. Discussões como essas, só uma esquerda que não tem medo de dizer seu nome pode apresentar. 

VLADIMIR SAFATLE na Folha de São Paulo de 25/01/11 


No Brasil, os vencimentos de militares não resistem a comparação aos demais salários no serviço público. Para dirigir carros oficiais, por exemplo, um motorista do Senado ganha até R$ 19 mil, enquanto o comandante de fragata da Marinha recebe R$ 8 mil. Na Câmara, há ascensorista recebendo R$ 10 mil para pilotar elevador; na FAB, um piloto de jato de combate Mirage percebe R$ 7.428 por mês. Brutos.
Fonte: http://www.claudiohumberto.com.br

Enquanto isto, boa parte da população brasileira vive com apenas R$ 540,00 mensais.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Alerta que vem da lama


Biogeógrafo americano Jared Diamond afirma que estamos sob risco de suicídio ecológico, mas há saída

Ivan Marsiglia e Carolina Rossetti - O Estado de S.Paulo

Dilúvio. Capela de Santo Antônio, em Nova Friburgo, dia 21: 'Precisamos estar preparados para um número cada vez maior de tragédias relacionadas a mudanças climáticas' 


Rubbish! É a resposta - em bom inglês - do biogeógrafo americano Jared Diamond para a pergunta sacada com frequência pelos "céticos do clima" no afã de congelar o debate ambiental: o aumento da temperatura do planeta, ao qual se atribui a intensificação dos ciclos de calor e frio testemunhada hoje por toda a parte, pode ser o resultado de um ciclo natural da Terra? Rubbish - lixo, besteira. "A ideia de que as mudanças climáticas que estamos presenciando hoje são naturais é tão ridícula quanto a que nega a evolução das espécies", fustiga o autor de Colapso (Record, 2005), um tratado multidisciplinar de 685 páginas na edição brasileira que analisa as razões pelas quais grandes civilizações do passado entraram em crise e virtualmente desapareceram. E a questão assustadora que emerge de seu olhar sobre as ruínas maias, as estátuas desoladoras da Ilha de Páscoa ou os templos abandonados de Angkor Wat, no Camboja, é: será que o mesmo pode acontecer conosco?
A resposta de Diamond, infelizmente, é sim. Ganhador do Prêmio Pulitzer por sua obra anterior, Armas, Germes e Aço (Record, 1997), em que focaliza as guerras, epidemias e conflitos que dizimaram sociedades nativas das Américas, Austrália e África, o cientista americano há anos nos adverte sobre os cinco pontos que determinaram a extinção de civilizações inteiras. O primeiro, é a destruição de recursos naturais. O segundo, mudanças bruscas no clima. O terceiro, a relação com civilizações vizinhas amigas. O quarto, contatos com civilizações vizinhas hostis. E, o quinto, fatores políticos, econômicos e culturais que impedem as sociedades de resolver seus problemas ambientais. Salta aos olhos em sua obra, portanto, a centralidade que tem a ecologia na sobrevivência dos povos. 
Foi na semana subsequente à pior catástrofe natural da história do País, na região serrana do Rio de Janeiro - a mesma em que um arrepiante tornado surgiu nos céus de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense -, que Jared Diamond falou por telefone ao Aliás. Às vésperas do lançamento no Brasil de um de seus primeiros livros, O Terceiro Chimpanzé (1992), o professor de fisiologia e geografia da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, fala das providências cruciais que o ser humano deverá tomar nos próximos anos para garantir sua existência futura. Diz que as elites políticas, seja nos EUA, na Europa, nos países pobres e nos emergentes, tendem a tomar decisões pautadas pelo retorno em curto prazo - até um ponto em que pode não haver mais retorno. Avalia que o Brasil dos combustíveis verdes tem sido "uma inspiração para o mundo", mas também um "mau exemplo" na preservação de suas florestas tropicais. E fala da corrida travada hoje, cabeça a cabeça, entre "o cavalo das boas políticas e aquele das más", que vai determinar o colapso ou a redenção das nossas próximas gerações. 
O Brasil enfrentou tempestades de verão que mataram mais de 700 pessoas. Debarati Guha-Sapir, do Centro de Pesquisas sobre a Epidemiologia de Desastres da ONU, disse que o tamanho da tragédia é indesculpável, pois o País tem apenas um desastre natural para gerenciar. Como evitá-lo no futuro? 
Precisamos estar preparados para um número cada vez maior de tragédias humanas relacionadas a mudanças climáticas. O clima se tornará mais variável. O úmido será mais úmido e o seco, mais seco. A Austrália, por exemplo, acaba de sair da maior seca de sua história recente e agora enfrenta o período mais úmido já registrado no país. Em Los Angeles, onde moro, recentemente tivemos o dia mais quente da história e, há algum tempo, o ano mais chuvoso e também o mais seco que a cidade já viu. 

Em seus escritos, o sr. aponta a Austrália como um país com estilo de vida antagônico às suas condições naturais. Mas, em comparação com o Brasil, os australianos se saíram melhor: enfrentaram a pior enchente em 35 anos, mas contabilizaram apenas 30 mortos. Como explicar isso? 

É verdade que o modo de vida dos australianos não está em harmonia com suas condições naturais. Mas o estilo de vida dos americanos e dos brasileiros tampouco. O modo de vida do mundo não está em harmonia com as condições naturais deste próprio mundo. No caso da Austrália, o país fica no continente que tem o meio ambiente mais frágil, o clima mais variável e o solo menos produtivo. Mas a Austrália é um país rico e dispõe de mais dinheiro que o Brasil para criar uma infraestrutura que gerencie tais problemas. Em Los Angeles, onde as enchentes são recorrentes, não resta um rio em seu leito natural: todos receberam canais de concreto para reduzir o risco de enchentes. A minha casa fica literalmente em cima de um córrego coberto por uma estrutura de concreto. Nos 34 anos em que vivi nessa casa, apenas duas vezes a água invadiu o porão. 

Em Colapso, o sr. lista cinco razões que explicam o declínio das sociedades. Elas continuam as mesmas?
Sim. Os cinco fatores que levo em consideração ao tentar entender por que uma sociedade é mais ou menos propícia a entrar em colapso são, em primeiro lugar, o impacto do homem sobre o meio ambiente. Ou seja, pessoas precisam de recursos naturais para sobreviver, como peixe, madeira, água, e podem, mesmo que não intencionalmente, manejá-los erradamente. O resultado pode ser um suicídio ecológico. O segundo fator que levo em conta é a mudança no clima local. Atualmente, essa mudança é global, e resultado principalmente da queima de combustíveis fósseis. O terceiro fator são os inimigos que podem enfraquecer ou conquistar um país. O quarto são as aliados. A maioria dos países hoje depende de parceiros comerciais para a importação de recursos essenciais. Quando nossos aliados enfrentam problemas e não são mais capazes de fornecer recursos, isso nos enfraquece. Em 1973, a crise do petróleo afetou a economia americana, que dependia da importação do Oriente Médio de metade dos combustíveis que consumia. O último fator recai sobre a capacidade das instituições políticas e econômicas de perceber quando o país está passando por problemas, entender suas causas e criar meios para resolvê-los.

O colapso da sociedade como hoje a conhecemos é evitável ou apenas prorrogável?
É completamente evitável. Se ocorrer, será porque nós, humanos, o causamos. Não há segredo sobre quais são os problemas: a queima exagerada de combustíveis fósseis, a superexploração dos pesqueiros no mundo, a destruição das florestas, a exploração demasiada das reservas de água e o despejo de produtos tóxicos. Sabemos como proceder para resolver essas coisas. O que falta é vontade política. 

O Brasil tem feito sua parte? 

Nunca estive no Brasil, portanto não posso falar a partir de uma experiência de primeira mão. Mas pelo que entendo, vocês adotaram uma solução imaginativa para a questão energética, com a produção de etanol. O Brasil é uma inspiração para o resto do mundo em relação aos carros flex. Por outro lado, mesmo que o País esteja consciente dos riscos de se desmatar a maior floresta tropical do mundo, muito ainda precisa ser feito. A Amazônia é muito importante para os brasileiros, pois ela regula o clima do país. Se a destruírem, o Brasil inteiro sofrerá com as secas. 

De que maneira as elites tomadoras de decisão podem encabeçar a solução dos problemas ou ser responsáveis por conduzir sociedades à autodestruição? 
Uma elite que foi competente em solucionar problemas é a composta por políticos dos Países Baixos, que têm grandes dificuldades com o manejo de água, já que um terço da área desses países está abaixo do nível do mar. A Holanda investiu uma quantidade enorme de dinheiro no controle de enchentes. Uma coisa que motivou os políticos holandeses é que muitos deles vivem em casas que estão sob o nível do mar. Eles sabem que se não resolverem a coisa vão se afogar com os demais. Outra elite razoavelmente bem-sucedida é a realeza do Butão, nos Himalaias. O rei butanês disse ao seu povo que o país precisa se tornar uma democracia quer queira, quer não. Ele também anunciou que a meta do país não é aumentar o PIB, mas elevar o índice que mede a felicidade nacional. Isso é verdadeiramente uma meta maravilhosa. Nos EUA, temos políticos poderosos com uma visão curta e destrutiva. Acho que contamos com um bom presidente, mas temos uma oposição cujos objetivos no presente momento se resumem a ganhar a próxima eleição presidencial e, repetidamente, tem negado a existência da mudança climática e do aquecimento global. 

De que forma o declínio de sociedades antigas pode nos servir de lição? 
Algumas sociedades do passado cometeram erros decisivos, outras agiram com sabedoria e tiveram longos períodos de estabilidade. Um vizinho de vocês, o Paraguai, é um exemplo de país que cometeu um erro crucial, há 120 anos: lutar simultaneamente contra Brasil, Argentina e Uruguai. Isso resultou na morte de 80% dos homens e um terço da população. Tomando como exemplo o Paraguai, precisamos aprender a adotar metas realistas. Podemos aprender também com os países que manejam bem seus recursos, como a Suécia e a Noruega, ou tomar como mau exemplo a Somália - que desmatou suas florestas e hoje sofre com a seca. Em defesa da Somália, podemos argumentar que o país não conta com um grande número de ecologistas capacitados, ao contrário de Brasil e EUA. 

O sr. estudou a ascensão e queda de sociedades no passado, mas o que se discute agora é o futuro da própria humanidade. Sua teoria é capaz de explicar os desafios do mundo globalizado?
Sim. É verdade que esta é a primeira vez na história que enfrentamos o risco de o mundo inteiro entrar em colapso. No passado, o colapso do Paraguai, por exemplo, não teve nenhum efeito na economia da Índia ou da Indonésia. Hoje, até mesmo quando um país remoto, como a Somália ou o Afeganistão, entra em colapso isso repercute ao redor do mundo. Mas, por analogia, é possível tirar conclusões semelhantes. 

O geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001) enfatizou aspectos socioculturais para explicar os dilemas da sociedade, enquanto seu trabalho é considerado por alguns como geodeterminista. Aspectos culturais não teriam mais influência sobre o futuro das sociedades que os naturais? 
Com frequência as pessoas me perguntam se isso ou aquilo é mais importante para explicar o declínio das sociedades. Questões como essas são ruins. É o mesmo, por exemplo, que perguntar sobre as causas que levaram ao fracasso de um casamento. O que é mais importante para manter um casamento feliz? Concordar sobre sexo ou dinheiro, ou crianças, ou religião, ou sogros? Para se ter um casamento feliz é preciso estar de acordo a respeito de sexo e crianças e dinheiro e religião e sogros. O mesmo se dá no entendimento do colapso de sociedades. Fatores culturais são importantes, mas diferenças ambientais não podem ser ignoradas. Por exemplo, as regiões Sul e o Sudeste do Brasil são mais ricas que a Norte. Isso é por causa do meio ambiente, não porque as pessoas no norte sejam burras e as do sul mais inteligentes ou cultas. A explicação é que o norte do país é mais tropical e áreas tropicais tendem a ser mais pobres porque têm menos solos férteis e mais doenças. O mesmo é verdade nos EUA, onde até 50 anos atrás o sul foi sempre mais pobre que o norte. Ao redor do mundo, esse padrão é repetido: países tropicais tendem a ser mais pobres que os de zonas temperadas. 

Que sociedades estão em colapso hoje?

Todas as sociedades do mundo estão em risco de colapso. Se a economia mundial colapsar isso afetará todos os países. Nós vimos o que houve dois anos atrás, quando o mercado financeiro americano quebrou, afetando todas as bolsas do mundo. Então, embora todos os países estejam em risco de colapso, alguns estão mais próximos dele do que outros - por uma maior fragilidade ambiental, porque são menos maduros política ou ecologicamente ou por qualquer outro motivo. Por exemplo, o Haiti, que retornou agora às manchetes com a volta do ditador Baby Doc, viu seu governo virtualmente colapsar e continua em grande dificuldade. O México enfrenta dificuldades gravíssimas relacionadas a problemas ecológicos, com a aridez de suas terras, e políticos, com a onda de assassinatos ligada ao tráfico de drogas. Paquistão é um exemplo óbvio, Argélia, Tunísia, que também estão no noticiário... Do outro lado, dos países com menos risco de colapso estão a Nova Zelândia, o Butão e, na América Latina, a Costa Rica. Chile também vai bem. E o Brasil tem melhores perspectivas que vizinhos como a Bolívia, claro. 

Países podem se recuperar do colapso?

O colapso normalmente não é definitivo. Houve colapsos no passado que foram sucedidos por retomadas. O Império Romano caiu e, apesar disso, a Itália é hoje um país de Primeiro Mundo. 

A Europa, onde o debate a as leis de proteção ambiental mais avançaram, também entrou em crise. Quando isso ocorre, há risco de retrocesso nas políticas ambientais? 
É possível. Muita gente sustenta que, quando a economia está fraca, não se consegue investir como se deve no meio ambiente. O colapso econômico de fato põe em risco os avanços em sustentabilidade. Só que os problemas ambientais só são fáceis de resolver nos estágios iniciais. Nesse ponto custam menos, mas se aguardamos 20 ou 30 anos, eles se tornarão muito caros ou impossíveis de solucionar. 

Nos EUA, quando o presidente Obama condicionou empréstimos às montadoras americanas ao investimento em carros mais baratos e menos poluentes, a crise não ajudou?
Tanto as crises econômicas podem ter bons efeitos para a política ambiental como fazê-la retroceder. Nos EUA, antes do crash financeiro, estava muito em moda o Hummer, um jipe de 3 toneladas, versão civil de um veículo militar utilizado no Iraque. Era caríssimo e gastava horrores em combustível. Aparentemente, suas vendas despencaram e isso é um efeito positivo da crise econômica. Ainda assim, há americanos ignorantes que ainda insistem em dizer que, uma vez que estamos em crise, podemos deixar a agenda ecológica de lado. 

Há modelos econômicos melhores e piores no que diz respeito aos danos ecológicos?
No momento em que falamos, tenho que dizer que o modelo econômico americano não parece ser o mais adequado. Por outro lado, somos uma democracia, com maus políticos, mas também bons - que denunciam os problemas que põem em risco o futuro. Numa ditadura comunista, por exemplo, isso seria impossível. Gosto do sistema capitalista porque ele pressupõe competição, inclusive de ideias. Mas aprecio também o papel do Estado em interferir no capitalismo, evitando os monopólios e enfrentando grupos cujos interesses vão de encontro aos da maioria da população. Em comparação, eu diria que o modelo europeu de capitalismo, mais socializado e comprometido com o bem comum, é atualmente a alternativa menos ruim.

Alguns cientistas afirmam que não se pode dizer ao certo que o aquecimento global seja culpa da ação do homem; pode ser parte de um ciclo natural da Terra. 

Sabe a palavra inglesa rubbish? Significa lixo, mas é usada em linguagem coloquial em referência a ideias ridículas. O argumento de que as mudanças climáticas que estamos presenciando hoje sejam apenas naturais é simplesmente ridículo. Tanto como aquele que nega a evolução das espécies. As evidências de que tais mudanças se devem a causas humanas são irrefutáveis. Os anos mais quentes registrados em centenas de anos se concentram nos últimos cinco que passaram. O planeta já enfrentou flutuações de temperatura no passado, mas nunca nos padrões registrados hoje. Não conheço um único cientista respeitável que afirme que as atuais mudanças de clima não se devam à ação humana. É por isso que eu digo: rubbish

Seis anos depois do lançamento de Colapso, o sr. está mais otimista ou pessimista em relação ao futuro de nossa civilização? 

Diria que me mantenho mais ou menos no mesmo nível. Tenho visto coisas ruins piorarem e boas tornarem-se melhores. O que mais me preocupa é que continuamos vendo um aumento vertiginoso do consumo no mundo, seja nos EUA, na China, na Índia ou no Brasil. O que me anima é que cada vez mais pessoas reconhecem a gravidade da situação e estão tomando iniciativas. Uma metáfora que gosto de usar é a da corrida de cavalos. Há dois deles correndo agora, o cavalo da destruição e o cavalo das boas políticas. Nestes últimos seis anos, eu diria que os dois têm corrido cada vez mais rápido, disputando cabeça a cabeça. Não sei qual vencerá a corrida, mas diria que as chances do cavalo do bem vencer são de 51%, enquanto o das más políticas tem 49%. E, se nossa destruição não é certa, nem um destino inescapável, é preciso saber que se não tomarmos medidas urgentes vamos ter grandes problemas. 

A indústria do entretenimento mostra, cada vez mais, imagens do fim do mundo, prédios em ruínas, cidades abandonadas. Por que somos tão fascinados por nossa destruição?

Parte disso se deve à força romântica das imagens de civilizações passadas que entraram em colapso, como as ruínas dos maias, incas e astecas. Ou os escombros das guerras no Iraque e no Irã. E pensamos: quem construiu aqueles templos e monumentos, tinha uma cultura e arte admiráveis, podia imaginar que isso aconteceria? Por que essas civilizações entraram em colapso, sem poder evitar? E nos angustiamos: será que isso também vai acontecer conosco? 

D'O Estado de São Paulo

domingo, 23 de janeiro de 2011

Aviões de caça: a história de um negócio perdido


O Rafale francês, que era o favorito do governo brasileiro para equipar a FAB, foi colocado agora no último lugar da fila. Sarkozy sabe a razão
Dilma Rousseff anunciou que o Brasil não comprará neste ano os caças, tirando as últimas esperanças dos franceses. A França chegou a estar com a mão na taça — ou mais precisamente em uma encomenda de 36 bilhões de dólares.
No ano passado estava tudo certo para a assinatura da compra dos 36 caças franceses Rafale, mas entrou areia iraniana no negócio. O líder francês Nicolas Sarkozy incentivou a diplomacia brasileira a prosseguir em sua tentativa de negociação de um acordo sobre o programa nuclear do Irã.
Na hora da verdade, Sarkozy renegou publicamente seu apoio à iniciativa brasileira e a França ainda votou a favor de sanções ao Irã na ONU, deixando o Brasil com a brocha na mão.
O governo brasileiro se sentiu traído e, em retaliação, mandou rever todo o processo de compra dos aviões, colocando o modelo francês no fim da fila.
Por Lauro Jardim da Revista Veja

domingo, 16 de janeiro de 2011

Desleixo assassino

Como mostrou ontem o repórter Evandro Spinelli na Folha, o risco de um desastre de grandes proporções na belíssima região de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo foi detectado há dois anos por um estudo técnico encomendado pelo próprio governo do Rio.

E o que o governo fez com o resultado? Largou às traças, deixou pegando poeira na burocracia, empurrou para a gaveta ou simplesmente jogou no lixo -junto com o dinheiro público que o pagou.
Horas antes, as autoridades tiveram nova chance de não dar asas ao azar: o novo radar da Prefeitura do Rio e o Instituto Nacional de Meteorologia identificaram previamente a formação da tempestade.
E o que foi feito? Nada. Os órgãos atuaram isoladamente, não como um sistema integrado, em que o alerta se reproduz entre as várias instâncias, tem consequências e salva vidas. Mas não. É como se o radar fosse de enfeite, e o Inmet, só para inglês ver.
Num ótimo artigo, o colega Marcos Sá Correa defendeu que o remédio é responsabilizar homens públicos -e não abstratamente o Estado- pelos crimes que cometem contra a vida. É crime dar levianamente alvará de construção e "habite-se" para imóveis em encostas, fechar os olhos para casas em áreas de risco, desprezar alertas de tempestades e de outras intempéries.
Para complementar a sugestão do Marcos, a Polícia Federal deveria investigar também esse tipo de crime que pode resultar em 500, 600 mortes, famílias inteiras destruídas, casas despedaçadas, bilhões de prejuízos aos bolsos particulares e aos cofres públicos.
Se não vai por bem, vai por mal -na base da ameaça. Mais ou menos como no caso do cinto de segurança: todo mundo só passou a usar depois de criada a multa.
No rastro da Satiagraha, da Sanguessuga, da Castelo de Areia, fica aí a sugestão para o novo diretor-geral da PF, Leandro Coimbra: a operação "Desleixo Assassino".

Eliane Cantanhêde na Folha de São Paulo de 16/01/11

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Tragédias: Gastos com prevenção são minimizados


Governos federal e do Estado do Rio empenham mais recursos para consertar tragédias do que para preveni-las

Apesar de liberação rápida, verba para obras de reconstrução pode levar mais de três meses para chegar às cidades


Tanto o governo federal quanto o Estado do Rio gastam muito mais para consertar estragos de desastres naturais do que com prevenção.
O governo fluminense gastou dez vezes mais em consertos do que em prevenção. Reservou R$ 8 milhões para contenção de encostas e repasses às prefeituras para combate a enchentes e deslizamentos. Diante das mortes e da destruição em Angra dos Reis, Niterói e outras localidades, desembolsou R$ 80 milhões para reconstrução.
Segundo a Secretaria de Obras, as prefeituras têm dificuldades para formatar projetos e mapear áreas de risco, o que pode garantir a liberação de verbas de prevenção.
Já a União gastou 14 vezes mais com reconstrução do que com prevenção em 2010.
Conforme a ONG Contas Abertas, que monitora gastos públicos, foram R$ 167,5 milhões para prevenir e R$ 2,3 bilhões para remediar.
O padrão deve se repetir. Já são R$ 700 milhões para o atendimento emergencial das vítimas da região serrana do Rio, verba cinco vezes superior ao que se está previsto para prevenção neste ano.

DEMORA
Quando liberada, porém, verba de reconstrução costuma levar mais de três meses para chegar aos municípios.
A culpa pela demora na liberação dos recursos, afirma o TCU (Tribunal de Contas da União), é dos governos federal, estaduais e municipais, que precisam apresentar um plano de trabalho com dados sobre danos provocados e estimativa financeira para as ações de reconstrução.
Estados e os municípios costumam apresentar planos genéricos e incompletos. A União também falha por ter um quadro técnico restrito para analisar as demandas.
Procurada, a Secretaria Nacional de Defesa Civil não quis comentar os números. Sobre a demora na liberação dos gastos, afirmou que houve "sinais de melhora".
Ainda ontem, o governo anunciou também o envio de 210 homens da Força Nacional para auxiliar nas operações de resgate e identificação dos corpos no Rio.

Da Folha de São Paulo de 14/01/11

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Fabricando a calamidade pública federal, estadual e municipal

Por que será que o governo opta quase sempre por consertar os estragos, e não em preveni-los? 

Para muitos especialistas, a resposta é simples: obras necessárias para prevenção, como contenção de encostas ou retirada de famílias de áreas de risco, não dão voto, mas a verdade é outra: ao decretar estado de calamidade pública, os governantes podem contratar obras em caráter de emergência sem concorrência pública, ou seja, podem roubar à vontade e a lei os protegerá.(1)
No ano passado, segundo a organização não governamental Contas Abertas, o governo federal gastou apenas 40% do que tinha no orçamento para prevenção.
É assim que o governo federal enfrenta os desastres naturais, como enchentes e inundações. No ano passado, foram liberados R$ 168 milhões para prevenção. Já para socorrer as vítimas e remediar os problemas, o governo gastou 14 vezes mais: R$ 2,3 bilhões
Adaptado de texto do G1, com notícia do Bom Dia Brasil de 12/01/11

Chuvas e erros de sempre inundam cidade e matam 4
Com investimento insuficiente em obras antienchente, falha nos sistemas de alerta e as mesmas mazelas de bueiros sujos, acúmulo de lixo e moradias em áreas de risco, São Paulo se viu outra vez refém da chuva.
Foram 127 pontos de alagamento na cidade, recorde desde 2005. Quatro paulistanos morreram; no Estado, houve mais dez mortes. Sinais de alerta não chegaram à população, as marginais Tietê e Pinheiros ficaram alagadas, metrô e trens foram afetados. Milhares não conseguiram ir trabalhar.
Geraldo Alckmin (PSDB) e Gilberto Kassab (DEM) voltaram a culpar o volume da chuva pelos transtornos e a prometer mais obras - para o próximo verão. O prefeito, que arrecadou R$ 835 milhões a mais em 2010, tinha R$ 504 milhões orçados para obras anticheias e gastou R$ 430 milhões.
Folha de São Paulo de 12/01/2011

Tempestade e comportas abertas cidade de Franco da Rocha afundar
Franco da Rocha, em SP, fica submersa
Abertura de comportas pela Sabesp agravou cheia, mas empresa diz que sistema no limite não deixou alternativa
Estão sob água o fórum, a prefeitura, a Câmara e outros prédios públicos; inundação chega a mais de 2 m em alguns pontos
Folha de São Paulo de 13/01/11

Se a TV se antecipa à chuva, por que o poder público não pode?
É a pergunta do jornalista Clóvis Rossi na Folha de São Paulo  
Se lá pelas seis da tarde de terça-feira, as equipes de todas as redes de TV estavam a postos na Ponte Pequena, sobre a marginal do Tietê, câmeras apontadas para o que se supunha ser o inevitável transbordamento do rio, como não há um esquema de Defesa Civil que funcione e impeça que o paulistano, o carioca, o mineiro, caia, ano após ano, em uma ratoeira?

Finalizando.
Não vou comentar sobre a tragédia acontecida no Rio de Janeiro, pois ali, a má gestão do dinheiro já é histórica e conhecida, o que explica o fato dos governantes cariocas lutarem tanto pelos royalties do petróleo, querem continuar extorquindo a nação brasileira. 

José Geraldo da Silva

(1) O trecho em destaque é meu.



Quando pensei em escrever o texto acima, a tragédia do Rio ainda não tinha acontecido, quando fiz a postagem, ainda não tinha o tamanho da mesma, minha intenção inicial era falar apenas sobre o governo federal, sobre o estadual paulista tucano e o municipal paulistano demo, ao que parece vai virar a casaca tornando-se pemedebista, mas os fatos falaram mais alto.  

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O tempo chegou

Provavelmente não há nada que tenha confundido mais a discussão sobre os efeitos da taxa de câmbio supervalorizada do que duas expressões que definem conceitos ambíguos e simplificadores: o de "doença holandesa" e o de "desindustrialização".
Poderemos, talvez, vir a sofrer a primeira doença se não atentarmos para o que nos ensinam os países que não souberam aproveitar com inteligência sua abundância de recursos naturais relativamente escassos (como é o caso do nosso petróleo do pré-sal).
Mas não se trata de uma fatalidade histórica. Poderemos, eventualmente, ser atacados pela segunda se continuarmos a repetir os erros do passado, usando a supervalorização do câmbio como instrumento oportunístico para combater a inflação, na esperança de que o sistema de câmbio flutuante garantirá, sem sobressaltos, o financiamento eterno dos deficits em conta corrente.
Enquanto a diferença entre a taxa de juros real interna e a externa continuar superior ao "risco Brasil", a taxa de câmbio nunca será o velho preço relativo que assegurava o valor do fluxo dos importados com o dos exportados.
Continuará a ser o que é hoje: um ativo financeiro nos milhões de portfólios dos agentes que frequentam o imenso mercado internacional de moeda, cerca de 20 vezes maior que o valor dos de bens e serviços comercializados.
Em 2030, teremos de dar emprego de boa qualidade a 150 milhões de pessoas, o que não será possível sem o crescimento da indústria e dos serviços dela decorrentes que o câmbio valorizado está destruindo.
Parece claro que, vista do Brasil, a supervalorização do real teria sido um pouco menor se nossa política fiscal tivesse sido mais agressiva. Mas não se deve tomar a nuvem por Juno e sugerir que esse é o único problema.
Primeiro, porque a relação entre a política fiscal e o deficit em conta corrente tem múltiplos canais. Segundo, porque, por maior que tenha sido a sessão de tortura a que os economistas submeteram os dados, o que viram (além de indecisões) é que um aumento do superavit fiscal igual a 1% do PIB parece não gerar redução maior que 0,2% ou 0,3% do PIB, do deficit em conta corrente, depois de 2/3 anos.
É tempo de perder as ilusões e de pendurar-se em modelos abstratos.
Precisamos de um programa econômico sólido, que coordene as políticas fiscal e monetária e dê musculatura e coragem ao Banco Central para -com os cuidados necessários- dar um sinal claro e crível ao mercado de que caminharemos mesmo para a redução da taxa de juro real e resolver o problema do câmbio.

ANTONIO DELFIM NETTO na Folha de São Paulo de 12/01/11

Tanajura frita com arroz

No Brasil, a tradição alimentar de comer formigas pode estar ameaçada

The New York Times
Alexei Barrionuevo e Myrna Domit
Em Silveiras (Brasil)

  • As formigas fêmeas conhecidas como içás, ou formigas rainha, na zona rural de Silveiras, no dia 21 de dezembro de 2010 As formigas fêmeas conhecidas como "içás", ou formigas rainha, na zona rural de Silveiras, no dia 21 de dezembro de 2010
Jorge da Silva pegou uma formiga gigante do chão lamacento, arrancou suas asas, pernas e mandíbula e a jogou na boca como se fosse pipoca.
“Tem gosto de hortelã”, disse Silva, 58 anos, com um som crocante saindo de sua boca.
Usando botas de borracha, Silva perambulava pelos morros acima de sua cidade de 6 mil habitantes com uma vara e um balde de plástico. Ele estava à caça da obsessão de Silveiras e uma rara iguaria gastronômica no Brasil: a içá, ou formiga rainha.
As fortes chuvas de primavera em outubro e novembro fazem com que as formigas deixem o solo e por algumas breves semanas Silveiras entra em um frenesi de caça à formiga. Os moradores as estocam, limpam as içás e as congelam em garrafas de um e dois litros para que durem até o ano seguinte.
Mas neste ano a caça à formiga foi menor do que o habitual, dizem os moradores, e o número de formigas está diminuindo. Os principais culpados são os pesticidas usados nos eucaliptos que são plantados para produção de celulose para papel e outros produtos, disseram moradores e autoridades locais.
“Com a urbanização e o veneno que estão colocando no solo, não nos resta muito tempo”, disse Vera Toledo, 67 anos, uma escritora e antropóloga cujo marido é natural de Silveiras.
Gerações de povos indígenas usavam as formigas para substituir as proteínas de peixes e macacos, disseram os moradores. Hoje, os moradores de Silveiras –e as pessoas que dirigem centenas de quilômetros por ano para comprar as formigas– as prezam não apenas por sua proteína, mas também como afrodisíaco e fonte de antibióticos naturais.
Os moradores desta cidade a 207 quilômetros de São Paulo mantiveram viva a antiga tradição indígena de cozinhar e servir as formigas com pratos tradicionais brasileiros. Essas não são formigas comuns correndo sobre restos de alimentos açucarados, como a minúscula variedade americana. As içás são grandes –com até 2,5 centímetros de comprimento– e gordas, e a picada delas é dolorida.
Mas a mudança da paisagem representa uma ameaça às formigas, argumentam os moradores. Graças ao crescimento econômico do Brasil, a plantação de eucaliptos provou ser altamente lucrativa para alguns proprietários de terras em Silveiras, que perdeu seu lugar como grande produtora de café e carne bovina e que já teve uma população de mais de 30 mil habitantes.
Os moradores não tentaram transformar as formigas em um grande empreendimento comercial. No norte da Colômbia, os moradores locais exportam suas “hormigas culonas”, ou formigas rainha de traseiro grande, para a França, Reino Unido e outros países, onde são cobertas em chocolate.
As formigas cortadeiras no Brasil vêm da mesma família Atta das colombianas, disse Marina Saiki, uma bióloga do Zoológico de São Paulo. Mas apesar dos moradores daqui dizerem que um dinheiro extra seria bem-vindo, muitos parecem mais preocupados com a preservação da tradição –e da população de formigas– para si mesmos.
Ocílio Ferraz, um entendido local em içás de Silveiras, se dedicou a manter o banquete vivo. Um autoproclamado ambientalista, ele tem resistido aos esforços de exportá-las, preferindo receber os visitantes em seu restaurante, onde ele tem uma cozinha especial dedicada a fritar as içás.
Ferraz, 72 anos, diz que recebe telefonemas diários pedindo pelo fornecimento de formigas para cidades distantes. Ele disse que pensou a certa altura em exportá-las, mas desistiu porque as leis brasileiras para exportação de alimentos são complicadas demais. Além disso, ele disse: “Eu não acho que o fornecimento seria bom para a qualidade da tradição”.
Hoje ele mostra o jogo americano, pratos, copos, avental e pinturas na parede de seu restaurante, todos exibindo a formiga rainha. Outros artistas estão projetando brinquedos.
Lentamente, Ferraz conseguiu quebrar o estigma que costuma cercar a ingestão de formigas, que era vista como uma tradição reservada às famílias mais pobres.
“Muitas pessoas se diziam embaraçadas em comer as içás”, ele disse.
Mesmo assim, ele disse, todo outubro e novembro “a cidade inteira fica cheirando a formiga frita”.
Hoje os moradores estão mais abertos a respeito de seu apreço pelas formigas crocantes.
“Eu sou fanática por içá”, disse Maria José Camargo, 29 anos, ao provar algumas formigas no restaurante de Ferraz. “Eu adoro. Vale a pena economizar dinheiro o ano todo para gastar nas içás. Meus filhos são pequenos demais para pegá-las, mas quando crescerem, eles certamente vão pegar içás.”
Nos morros, Silva, o caçador de formigas, está ensinando Dudu da Silva, 12 anos e sem parentesco, como capturar as formigas. Com os dedos, Silva pega as içás uma por uma e as joga no balde.
As formigas picam Silva com frequência, cujas mãos geralmente ficam ensanguentadas após um dia as pegando. A certa altura, uma menininha que o observava trabalhando começou a chorar de dor quando uma formiga picou seu pé.
No restaurante de Ferraz, os caçadores de formiga vendem sua caça por em média US$ 15 por litro. Ele cobra aproximadamente US$ 12 por um prato grande de içás fritas em gordura de porco com farofa, para dois.
Apesar das formigas venderem rapidamente e serem uma aparente fonte de orgulho, algumas famílias de Silveiras ficam divididas com a prática. Edson Mendes Mota, o ex-prefeito de Silveiras e atualmente seu secretário de desenvolvimento, disse não ligar para elas, apesar de sua esposa ter uns oito quilos delas no freezer.
“Minha esposa gosta, meus filhos gostam, a cidade inteira gosta”, ele disse.
Mota apoia a crescente indústria de eucaliptos da cidade, que se transformou em inimiga das formigas. Os proprietários de terras têm o direito de plantar as árvores altamente lucrativas, apesar de o plantio ser regulado, ele disse.
“Nós precisamos nos unir, sentar e discutir o fato de que uma nova geração daqui não mais conhecerá as tradições de nossa cidade”, disse Mota.
Alair Duarte, o presidente da câmara municipal, disse que propôs limitar o plantio de eucalipto a certas áreas, para que as formigas possam continuar se reproduzindo.
“Se não fizermos isso rápido, não restará mais içás”, disse Duarte, que cresceu comendo as formigas içás cruas. “Antes de pensarmos em exportar as içás, nós precisamos preservar o que temos aqui.”
Se as içás estão em perigo aqui, alguns moradores dizem acreditar que ainda há um local onde o plantio de eucalipto não está matando as formigas.
“As pessoas dizem que há muitas içás nos cemitérios, porque elas comem os cérebros das pessoas”, disse Osmar da Silva, 43 anos, um vendedor de içás. “Mas é lenda”, ele disse, apesar de ter admitido, “eu nunca tive coragem de entrar em um cemitério para procurar lá”.
Tradução: George El Khouri Andolfato

Do New York Times no UOL 

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

MEU MODO DE SER




Não venha proibir o meu modo de ser
Dizendo o que eu devo e não devo fazer
Ditando normas e conceitos
Querendo que eu tenha preconceitos de mim

Desrespeitar meus sentimentos
Escolher o que é melhor pra mim
Dizer que a minha roupa é antíquada
Que o meu cabelo fica melhor assim

Não quero assistir esse filme
Que você mostra na tela
Que mostra castelos e sonhos
Esconde a realidade e a favela

Eu quero ter a liberdade
De enxergar a realidade
Não quero tapar o sol com a peneira, não
Quero ser livre e viver a minha maneira

(Carlos Benethi/Manoel Hélio)

MANIFESTO DE UM POETA

Escrevo porque o imperialismo ianque continua massacrando os povos no mundo, como no Oriente Médio, assassinando poetas da mesma forma em que os palestinos sofrem ataques por parte de Israel.

Escrevo por acreditar que somente a unidade de todos os poetas daquela região árabes e judeus empenhados em construir outra sociedade sem propriedade privada e sem classes será capaz de destruir o imperialismo.

Escrevo também porque conheço a realidade dos poetas africanos e sei que essa realidade é resultado de um processo histórico de massacre e espoliação capitalista do continente que remonta ao século XV quando do domínio estrangeiro de suas vidas e riquezas levando-os à situação de miséria nos dias atuais. Sei então que a solidariedade dos poetas do mundo deve se posicionar na luta em defesa desses escritores.

Escrevo porque sei da lógica do capitalismo concentrando a riqueza nas mãos de poucos ao passo que a imensa maioria que produz efetivamente essa riqueza é lançada à miséria a exemplo dos poetas asiáticos e tantos outros no mundo.

Escrevo porque sei da atual face do capitalismo e as conseqüências do neoliberalismo e contra este me coloco com todas as minhas forças irmanado com os poetas latinos de momento enfrentam seus governos gerentes avançados dos organismos financeiros internacionais no empenho de sugar todo produto do nosso trabalho aprofundando a exploração e criminalizando as resistências.

Escrevo por não acreditar na democracia burguesa representativa por saber que os poderosos se valem da força para não deixar seus postos que permitem a rapinagem.
Escrevo porque em meu país não se fez ainda a reforma agrária o homem e a mulher do campo pena por não ter terra desde 1500.

Escrevo por ver o governo privilegiar o setor financeiro – os verdadeiros governantes da Nação – Lucros para os grandes capitalistas e repressão aos poetas.
Escrevo porque nossa ferramenta de luta transformou-se em departamento de governo, capacho do imperialismo que acena com reformas no campo dos direitos autorais e que aprofunda ainda mais a difícil situação em que me encontro.

Escrevo por não acreditar na conciliação de classes como alguns outrora bem há pouco tempo combatiam e hoje propagandeiam dando sustentação as quadrilhas que se colocaram no poder em todas as esferas que buscam retirar direitos conquistados com muita luta e sangue. Sei na verdade da guerra de classes disfarçada existente no mundo.

Escrevo por fim por acreditar que só a revolução cultural pode por fim a essa situação, luto então para suplantar o capitalismo e em seu lugar construir uma sociedade alternativa.
Poetas do mundo inteiro, uni-vos!

Saudações Poéticas

Manoel Hélio

São Bernardo do Campo, 27 de outubro de 2010.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

137 assassinatos por dia no Brasil


Somos um país incomparável: 50 mil homicídios por ano. 
Isso dá 137 assassinatos por dia. É um avião grande caindo todos os dias e nós não nos escandalizamos com isso.
Este número é da Organização Mundial de Saúde e se refere ao ano de 2006, acredito que os números de 2010 devem ser piores. 
Para se ter uma idéia do tamanho do absurdo, no Iraque em 2006, mesmo com a guerra, o número de civis mortos foi de 34 mil, de acordo com a ONU.
“Nós temos 3% da população e temos de 10% a 12% dos assassinatos do planeta“ aponta o consultor de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho.

Média de assassinatos por dia no Brasil é maior do que a de regiões em guerra
O crime e o PIB estão crescendo juntos. E nas grandes cidades inchadas e mal crescidas, os bandidos chegam a dividir território.
Essa explosão de violência entre gangues na Bahia tem a ver com a economia. O crime e o PIB estão crescendo juntos. E nas grandes cidades inchadas e mal crescidas, os bandidos chegam a dividir território, como se fossem governos, e depois brigam pelo território.
Entre balas perdidas, assaltos e enfrentamentos, os assassinatos no Brasil estão na média de 137 por dia. Isso é bem superior a qualquer região conflagrada por guerras no mundo. É bem superior ao México, onde as drogas e o território também são motivo de sangue.
Um país que queira fazer a Copa do Mundo, que queira aproveitar as belezas naturais para atrair turistas, como a Bahia, que respeite a vida de seus cidadãos e não se escandaliza com 137 assassinatos por dia deve ser um país muito indiferente consigo mesmo.
Esta indiferença é o primeiro passo para ser dominado. O Rio de Janeiro já reagiu a isso e precisa continuar. A soberania sobre território é do estado, e não dos bandidos. O Rio já entendeu isso e não pode parar. Quem ainda não começou já vai começar tarde.

Região Metropolitana de Salvador tem 18 assassinatos em 24 horas
Veja os vídeos do Bom Dia Brasil

http://g1.globo.com/videos/bom-dia-brasil/v/regiao-metropolitana-de-salvador-tem-18-assassinatos-em-24-horas/1407444/#/Edições/20110110/page/1
.
http://g1.globo.com/videos/bom-dia-brasil/v/alexandre-garcia-fala-sobre-a-violencia-entre-gangues-na-bahia/1407445/#/Edições/20110110/page/1
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http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2011/01/media-de-assassinatos-por-dia-no-brasil-e-maior-de-regioes-em-guerra.html
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Fonte G1, com notícias do Bom Dia Brasil e comentário do Alexandre Garcia

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

QUE DEUS ESTEJA CONOSCO!

Desculpem a dureza das palavras, mas Sericita está se tornando um abatedouro de seres humanos. E o sangue começa respingar em cada um de nós.
Estão massacrando nosso sofrido povo... Alguém me responda. O que vale a vida? O que nós estamos valendo?


"Mais um homicídio registrado em Sericita
O lavrador Geraldo Pinto Pereira, 41 anos, foi morto em sua casa, no bairro Barro Branco, em Sericita, na noite desta terça-feira, 04.
Segundo a ocorrência da Polícia Militar, quando chegaram na casa do lavrador, ele estava caído num dos cômodos com um ferimento profundo na região da cabeça e algumas escoriações.
Vizinhos apontaram um elemento de 29 anos, que freqüentava muito a casa do lavrador, como suspeito do crime. O acusado foi encontrado pela Polícia Militar, admitiu que esteve na casa na segunda e negou envolvimento com a morte.
A perícia fez os trabalhos no local e as investigações vão continuar para tentar esclarecer a autoria do crime."


http://www.portalcaparao.com.br/lernoticia/6747/mais-um-homicidio-registrado-em-sericita

domingo, 2 de janeiro de 2011

Notícias da Santa do Daniel e da Tetê da D. Lilita

Ana Maria Guedes Pinheiro escreveu para o Jornal de Sericita em 01 de Janeiro de 2010

Morei em Sericita por 3 anos e meio e deixei aí muitos amigos, dos quais perdi o contato pelas circunstâncias da vida.
Gostaria de saber se vcs podem me dar notícias da Santa do Daniel e da Tetê da D. Lilita. Gostaria de obter o telefone ou email delas.
Se puderem, passe a elas o meu email : eu.guedes@hotmail.com
ou amgp@icabo.tv.br.
Desde já agradeço por qualquer ajuda.
E, parabéns pelo jornal.