Sericita e a infância no seu apogeu
Quando menino no armazém de secos e molhados
De João Mariano Queirós trabalhei, pela manhã
Abria suas portas, borrifava água, varria a calçada,
E Limpava o balcão de tábuas coeridas;
“Zé Padre” vinha e pedia uma cachaça da boa,
Comia uma mortadela e pela rua cambaleava.
Elegantes professoras de salto alto passavam
Rumo à escola – pequeno grupo escolar- uns
Alunos junto delas iam e outros ao seu encontro vinham
Logo depois, a Praça Santa Rita ficava deserta,
Passos de cavalos eu ouvia, era gente da roça
Que quebrando o silêncio vinha
Compravam arroz, feijão e açúcar, montavam
E de volta partia, antes, porém alguns também
Ao final, pediam e tomavam uma caninha da boa.
Logo vinham os irmãos “Tutinho e Déia”
Com suas idéias para uma vida melhor, desenhavam
No papel de pão esperanças mirabolantes, lindas
Mansões de alvenaria com quatro ou mais quartos
Pensando ser ricos um dia.
Enquanto isso, nos fundos do armazém, João olhava
No espelho, tirava a barba e penteava o cabelo
Logo sua mãe chegava, mandava chamar Manoel
Que a cidade governava, confabulavam algum tempo
Depois Manoel ia para casa, João caia no batente
E sua mãe ia embora se despedindo da gente.
A mãe de João e Manoel foi morar no céu, hoje
Vive juntinha de Deus, João continua na labuta,
Manuel eu não sei se continua ou desistiu da luta
Raimundo foi pro Rio, virou poeta e na serenidade
Das palavras navega, mas sua obra ainda está incompleta.
Êta vida besta, meu Deus! Resta-me lembrança de Sericita
E saudade da infância no seu apogeu!
De R J Cardoso