Onde nasci, sobre as águas tranqüilas e escuras,
Havia muita mariazinha e muita taboa, mariazinha
Para nada servia, mas exalava perfume arrebatador
A taboa meu pai cortava e no sol secava, minha mãe
Punha no tear e fazia esteiras para gente dormir
Com quatro ou mais pêndulos de pedras minha mãe amarava
Cada feche da taboa paralelamente. Eu menino gostava
De tocá-los e logo ela dizia: menino sai daí que essas pedras
Podem soltar e cair na sua cabeça – chorando dali me afastava.
Meu pai num banco de madeira sentava, acendia no chão
A fogueira, me botava no colo e acariciava; eu dormia e sonhava
Mas quando acordava o sonho eu não sabia contar.
Na escola da fazenda eu e meu irmão estudávamos,
Falávamos, a professora nos repreendia e algumas vezes
Até nos açoitava por conta da rebeldia.
A tabuada era cantada e em uma só voz a escola retinia
Tudo se decorava e nada se aprendia, na hora da lição
Nossas pernas de medo tremiam, porque se não soubéssemos
O castigo e palmatória comiam.
E não havia jogo de botões, na estrada só poeira se via
Se chovesse no barro afundávamos, mas no peito
A esperança de dias melhores folia fazia.
Poesia de R J Cardoso
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