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terça-feira, 9 de junho de 2009

Raimundo João Cardoso nosso novo colaborador

Transcrevo abaixo a biografia de mais um sericitense. Para os sericitenses com com mais 50 anos ele trabalhou na venda do João Queiroz.
Nem bem vindo R J Cardoso


Sou Raimundo João Cardoso, (R J Cardoso), Poeta e escritor. Publiquei nas décadas de 70, 80 e 90 artigos e crônicas em diversos jornais cariocas como Última Hora, O dia e O Globo. Escrevi Mensageiros de Gandhi, O Filósofo Jesuíta, Na Cauda do Cometa e Memórias Nordestinas. Cenário das Artes, Amor para Sempre, Castelo dos Sonhos e “CASA DE FAMÍLIA”. Participei das antologias publicadas pela Editora Litteris: Amor e Paixão – o erotismo na Literatura, Contos e Poemas do Brasil, Amor, Razão de Viver e Dicionário Bibliográfico dos Escritores Brasileiros do Ano 2000.
Segundo filho de família desprovida economicamente. Fui criado com todo o desconforto e insegurança que oferece tal condição. Fui sempre um menino muito estimado. Meus pais eram mineiros e ensinavam-nos para que seguíssemos caminhos abertos por nós mesmos, esperando que todos encontrassem, mais tarde, a felicidade.
Nasci pequeno, com dois quilos e meio, no exato momento em que minha mãe, Josefa Judithe Fagundes, deixava a lavoura de arroz no fim do dia rumo à nossa casa. Em meio a um temporal, não mais que de repente, ela me viu sustentado apenas pelo cordão umbilical e quase levado pela enxurrada; o que teria acontecido não fossem tuas santas mãos.
Meu pai, Saturnino Fagundes, o traço hereditário mais evidente que dele herdei foi à arte musical: era um bom violinista.
Meu avô paterno falecera de enfarto do miocárdio. Trago dele a vaga lembrança de um senhor de idade elevada, vestindo terno preto e naturalmente de cabelos grisalhos. Era meu avô muito prestativo com todos nós, essa uma postura comum à família de meu pai. Todos eram corteses, magnânimos, desvelados, mas longe, sem nos dispensar muito estimulo, afeição e carinho de que todas as crianças gostam e necessitam para uma vida feliz. Meus avós maternos eu não conheci, nem mesmo através de fotografia.
Meu pai, de baixa estatura e cabelos encaracolados, era muitíssimo bom, mas muito tímido. Sempre gostei do contato de sua mão na minha. Sentia-se vitorioso no trabalho quando um galho de seu pé de café amanhecia florido. Sua parca economia só permitia que ficássemos naquele ermo, distante de tudo, na periferia de um povoado de nome SERICITA, no estado das Minas Gerais, onde passei a maior parte de minha infância, nas proximidades de ABRE CAMPO, onde nasci, numa fazenda de propriedade dos Coelhos. Fazendeiros conhecidíssimos e respeitados na região pela dignidade com que tratavam seus trabalhadores. Lembro-me, como se fosse hoje, das visitas às outras fazendas, onde me deparava e ficava estarrecido com trabalhadores sovando o feijão ou o arroz nos terreiros. Busco e posso rever no fundo da memória todos de calças listradas e botas de canos longos caminhando sobre os cereais.
Meu pai era para mim o homem mais perfeito, meu herói.
Minha mãe era de baixa estatura, mede cerca de um metro e cinqüenta, é magérrima e assim permanece até hoje.
Como na infância eu e meus irmãos ficávamos diretamente sob sua tutela, nós a víamos como uma mulher maravilhosa, o que na verdade era. Passavam-nos despercebidas suas duras palavras. Minha admiração por ela era tão grande, que compensava, me levou a querer ser fazendeiro dono de grandes rebanhos de corte e leiteiro. Tanto que quando alguém me perguntava o que eu queria ser quando eu crescesse, sem titubear, respondia:
“Fazendeiro”!
Instante após ela acrescentava com certa desconsideração: “Mas fazendeiro, meu filho”, logo eu percebia que o significado de ser fazendeiro não era muito bom para ela; ai me elevava a aspiração e eu respondia:
“Quero é estudar para ser doutor”
Meus irmãos eram ótimos comigo e vivíamos todos numa perfeita harmonia. Meu irmão Adão era muito bom para comigo, mostrava-me muitas coisas e cuidava de mim como se cuida de uma jóia: dispensando-me muito carinho.Encontrávamo-nos, todos, no começo da vida, quando tudo era mil maravilhas, compreender e aprender o novo. Não entráramos ainda no caminho torto dos homens. “Não havíamos entregado a vida ao espancamento mental, que gera reação de igual intensidade” para viver dignamente.
Num cantinho da sala de minha casa, onde hoje improvisei meu escritório, está o computador no qual escrevo estas poucas palavras, lá, bem no fundo do meu inconsciente, coloquei um quadro contento fotografias, que se encontram amareladas pelo tempo, de meus pais, Adão, eu, Expedito, José, Geraldo e Eva, respectivamente, quando tínhamos dez, oito, sete, cinco, quatro e três anos. Éramos seis criaturas lindíssimas e saudáveis. Mentalizo a velha fotografia e me emociono. O que nos reservou a vida! Quantas lutas para não sofrer e quantas palavras em vão proferidas! Por conta disso, quando olho um menino, imagino quantos obstáculos ele terá que transpor para sobreviver com dignidade... São rápidos momentos de fragilidade, devido aos transtornos que na vida passei.
Como se percebe, foi difícil essa infância. Eu chegava avidamente a adolescência, como a própria palavra define, é uma travessia de muito sofrimento. Classifico-a como um período de tortura e que se eu tivesse de voltar às descobertas e as revoltas não gostaria jamais.
Com quinze anos, sem ainda nada ter estudado, apaixonado pelos livros aprendi a ler e escrever. Por conta disso, fui convidado para trabalhar no armazém de secos e molhados do meu amigo JOÃO MARIANO DE QUEIRÓS em Sericita - antes, porém, fui peão de boiadeiro, passando por Contagem, Caiaca, Ponte Nova, Rio Casca, Abre Campo e, finalmente, Sericita. Eu deixava a vida de lavrador para na cidade viver. Confesso que senti saudade do aconchego de minha família que, apesar de desprovida financeiramente, era abastada de amor e carinho.
No meu segundo dia de trabalho pensei em estudar, mas o trabalho no armazém ficaria prejudicado, uma vez que suas portas se fechavam às 21 horas e meu contrato, apesar de verbal, dizia que eu trabalharia desde a hora de sua abertura até este horário.
Depois de três anos, eu disse ao JOÃO que ia morar no Rio de Janeiro e ele não se contrapôs. No mês seguinte, pagou-me tudo que devia, me indenizou pelo tempo de serviço e para a Cidade Maravilhosa eu parti sem conhecer uma viva ‘lma. Morei na Estrada do Cambota - em Guadalupe - num pobre barraco no morro, juntamente com alguns desconhecidos, período em que fui operário da construção civil em Engenho da Rainha. Tempos mais tarde fui morar no bairro de Mesquita, ate então município de nova Iguaçu. Lá conheci uma família procedente de minha terra cujo filho mais novo, Antônio Cordeiro, me levou para trabalhar no Moinho Fluminense, hoje com outra denominação social, onde permaneci por mais de um ano.
Em 1972 ingressei no Instituto de Resseguros do Brasil - hoje também com outra denominação - como empregado de uma prestadora de serviços cujo nome não posso precisar, antes, porém, passei pelo Hotel Copacabana Pálaces, Nero Figueiredo, Fábrica de Estopas São Luiz Durão, Moinho da Luz, etc. Em primeiro de agosto de 1975, ingressei no quadro do IRB, em 1986, fui eleito para a diretoria de Comunicações do Sindicato dos Securitários do Rio de Janeiro, mandato que cumpri com dignidade e presteza que a categoria merece, até 1989. Depois retornei ao IRB e ajudei na fundação do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Resseguros (SINTRes). E na instituição IRB - fundada pelo Doutor JOÃO CARLOS VITAL, no governo de Getúlio Vargas, em 1939, - permaneci até outubro de 1995, quando fui demitido junto com outros companheiros por um famigerado Plano de Demissão Volutária, chamado PAV.

6 comentários:

  1. Ao ler sua história de vida, não pude conter as lágrimas fiquei emocionado e muito feliz. Apesar de todas as dificuldades nunca desistiu, para mim isso é bastante motivador.

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  2. Linda história de vida de Raimundo João Cardoso. Lí atentamente sua trajetória de vida e quero dizer-lhe, que me lembro de meus pais citar algumas vezes o nome de Saturnino, provavelmente o de seu pai. Possivelmente já tenhamos deparados em nossa infância pelas ruas de nossa Sericita, principalmente no comércio de João Queirós, uma "venda" onde se vendia de tudo, como ocorre até hoje. Lembro-me que os principais comércios daquela época em Sericita, eram o de João Queirós, Neneco Cirilo e João Arantes, além da Loja de tecidos do Sr Manoel de Araújo. Meus pais saiam da roça, de nossa propriedade na Cabeceira de Santana, para fazerem compras de roupas e outros utensílios para uso na lida diária. Nós ficávamos em casa na espera de nossos pais, que com muita alegria levavam pães, bala doce, pirulitos e muitas outras coisas. Era uma festa para a criançada.
    Espero que o Sr Raimundo João Cardoso leia este comentário e que ele faça novos comentários sobre Sericita. Talvez por ter saído muito cedo de Sericita, não se lembra de meus pais que são Raimundo Santana e Corina Rosa. Meu irmão mais velho é Cici Santana.
    O que Raimundo Cardoso não deve esquecer é do Rio Santana, certamente já nadou muito em suas águas.
    Por isso coloco nesse espaço algo que escrevi a respeito desse querido Rio:


    “Saudades de um Rio”
    Lázaro Santana Rosa – 01jan98



    Montanhas, vales e morros circundavam a Fazenda.
    As matas e as grandes pedras enfeitavam o ambiente.
    Das entranhas da terra, naquele cenário lindo, jorrava cristalina e pura, a água, líquido precioso e imprescindível à sobrevivência dos moradores.
    Formou-se um leito e naquele leito, escorregantemente, descia ladeira afora, aquele líquido, entremeado a raízes, troncos e pedras. E formavam poços, lagoas e remansos.
    Aquele leito ganhou um nome: Rio Santana. Eu era um menino, uma criancinha mesmo, mas me lembro bem: naquele rio, com a meninada da época, banhávamos nos finais de tarde. Até podíamos arriscar alguns saltos para mergulho. Atravessá-lo a pé, jamais.
    Das pequenas cachoeiras e quedas d’água que se formavam no seu curso, ouvíamos o seu cantarolar. Um espetáculo! Até parece que ele nos saudava, ou quem sabe, nos implorava para mantê-lo vivo, e não deixasse que mãos insanas o assassinassem.
    O barulho ensurdecedor das águas, principalmente no silêncio da noite, simbolizava talvez, um grito de alerta, já imaginando um futuro impiedoso e cruel.
    Mais de trinta ou quarenta anos se foram. As águas já não são tão volumosas e cristalinas como antes. Já se pode atravessá-lo a pé, quem sabe, com um passo largo.
    As matas e vegetações que enfeitavam suas margens foram substituídas pelos cafezais. Fertilizantes e agrotóxicos são usados com freqüência, sem os cuidados necessários. Mas e daí? Daí, é que este líquido tão precioso, pode estar sendo contaminado e pode nos contaminar também.
    O que será de você, meu caro Rio Santana, daqui a trinta ou quarenta anos? O que será de nós?
    Ah! Que saudades de um Rio!

    Lázaro Santana Rosa

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  3. Em 1949. O rio Santana, sustentados pelos campos sinuosos e pelos quilômetros sucessivos de canais na baixada, à leste do arraial, chegava inclinado ao centro do povoado, cortando as barrancas de Sericita para só então se estender pela fumegante carvoaria, de fornos profundos e antigos, que, à noite, adquiria vida com o sopro ativo do vento. Um lugar que à tarde as crianças, em sua maioria alegre, se sentiam sufocadas. Depois da carvoaria, o rio se estreitava e apresentava uma curva fechada na direção norte para abraçar a encosta da montanha desnuda.
    Depois, continuava ondulante pelo campo de futebol de duas traves, recém-recuperado. O campo tinha sido abandonado durante o período da guerra; mas, assim que os homens retornaram da Itália, grupo de voluntários tinha trabalhado duro para recuperá-lo ao seu estado anterior, com a relva baixa e nivelada de maneira a ludibriar olhares, aprovisionado de estorvo de areia, tendo no rio um obstáculo de água reentrante, transposto por belas pontes de concreto.
    Chique-chique, taboas e juncos cresciam nas margens confinante à água; e no auge do verão havia copo-de-leite e mamonas bem como carregadas nuvens de lavadeira e borboletas. Não se precisava ir muito longe seguindo a correnteza para ver tambaquis ou piabas. Havia serpentes, com certeza, e ratos perfumados, além de ligeiro temor de afogamento. Porém, na pior das hipóteses, a água era tida somente como um pequeno risco, somente como alguma coisa natural, alguma coisa para qual se podia fazer vistas grossas sem problemas algum. A maior parte dos moradores de Sericita ia do berço à sepultura sem se preocupar sequer uma vez com o rio. Com certeza, não havia meio de mudar isso.
    Quando saia do campo de futebol, o rio atravessava por sob os arcos alinhados da apertada ponte da estrada que marcava o contorno sul do arraial e, finalmente, entrava no arraial propriamente dito, passando por detrás da fábrica de laticínio lá próximo das trilhas duplas, depois pelo matadouro e pelos derradeiros paióis que restavam.
    O setor cafeeiro ainda estava em ação no ano de 1940, e uma fabrica de laticínio era alguma coisa de suma importância para um arraial tão pequeno, uma vez que representava colocação tanto para trabalhadores homens quanto para trabalhadoras mulheres: tarefa sazonal, importante e pesada no processamento de leite e seus derivados. O emprego era bem recompensado, mas, por se tratar de produto inteiramente condicionado ao mercado e as pastagens especiais, a fabricação tinha seus tropeços. O emprego tinha sido contínuo só durante a guerra, quando milhares de litros de leite chegavam em possantes caminhões para serem preparados e enviados para os homens que trabalhavam em terras distantes
    No inverno, junto ao paiol de madeira, a garotada vestindo grossos casacos com aroma de naftalina apoiavam as luminárias nos forcados das árvores que se alinhavam na extensão do rio para retirar areia, arremessando-a com pás para as margens mais altas. Retirava com cautela na areia mais finas a fim de deixar os montes organizados o suficiente para serem postos no caminhão sob o céu azul de inverno, que não era negro, porém sempre de um azul-marinho mais carregado possível. Meninos da mesma família lutavam pela vez de carregar os caminhões; e luvas encarnadas eram abandonadas no local até que aparecessem novamente através do brilho sol de inverno, penduradas nos galhos verdes das arvores mais baixas, à espera da próxima estação. Havia noites em que, a luminosidade derivada da lua longínqua e dos astros refletia-se na água gelada, como objeto de cetim para indumentária de bodas, a criançada apagava as luminárias, honradas por estar ao ar livre à noite sozinha, sentindo-se protegidas pela luz da natureza.
    Dentro de bem pouco tempo, porém, não haveria necessidade de as crianças tirar areia do rio Santana com pás para a própria sobrevivência porque os moradores estavam aventando a possibilidade da construção de um centro esportivo, um edifício majestoso em homenagem a Santa Rita de Cássia, padroeira do lugar.

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  4. O texto acima é de Raimundo João Cardoso (R J Cardoso) e faz parte da abertura da obra Amor Para Sempre

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  5. Lázaro, lembro-me de seu Raimundo, dona Corina e Cici. Saí de Sericita com 18 anos de idade e lá muito pouco voltei, sou sobrinho do Angelo e Arminda pais de Conceição, Maria, Expedito e José Justo que quem voce deve se lembrar. Minhas tias Ana e Antonia moram em Sericita, agora, depois de morar em São Paulo por alguns anos estão lá também Minha mãe Josefina, Eva e Geraldo meus irmãos. Sou apaixonado por Sericita. Agora gostaria de lhe parabenizar pela bela poesia e lhe convidar para ler meu trabalho literario no Recanto das Letras:http://recantodasletras.uol.com.br/autores/raijoao, abraço amigo!

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  6. SOU SOBRINHO DE LAZARO SANTANA, TRABALHO NA FARMACIA EM SERICITA SAO OTIMOS FREGUESES TODOS OS PARENTES DE RAIMUNDO DE JOAO CARDOSO, A DONA ARMINDA O JOSE JUSTO A CONCEISAO,DONA ANTONIA,DONA ANA, INCLUSIVE JA E FREGUESA NOSSA TAMBEM A DONA JOSEFINA E A EVA QUE ESTAO MORANDO AQUI DE POUCO. PARABENS SUA FAMILIA E 10

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