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sábado, 14 de abril de 2012

A VIOLÊNCIA SEXUAL

A repórter Jussara Soares fez uma série de reportagens sobre o tema VIOLÊNCIA SEXUAL, que transcrevo a seguir.
Os textos foram escaneados do Jornal de Diário São Paulo e gentilmente cedidos pela repórter Jussara Soares. 

Inimigo íntimo


81% da violência sexual contra criança ocorre dentro de casa

Professora abusada pelo pai, dos 12 aos 29 anos rompe o silêncio

Beijar é bom. Um abraço apertado acalma. Tem carinho que arrepia de tão gostoso que é.
Sexo às vezes é pura vontade, mas também pode ser amor. Para Flor de Lótus, de 32 anos, não é bem assim. Um simples toque no braço, para ela, pode desencadear uma sequência de dor e medo. O próprio pai lhe apresentou à força esses avessos.
 Dos 12 aos 29 anos, ela sofreu abusos sexuais frequentes de quem deveria protegê-la. A violência que começou no corpo de menina ainda dói como ferida aberta na alma de mulher.
Flor de Lótus é o codinome usado na internet por uma professora que mora na Zona Oeste da capital. Sua história é a primeira de várias que começam a ser contadas hoje, pelo DIÁRIO, na série de reportagens


Infância Interrompida


Graças a um desabafo em uma comunidade sobre abuso sexual no Orkut, os 17 anos de silêncio e tortura psicológica vividos dentro de casa foram rompidos.
Outras vítimas anônimas ou com perfis falsos deram a Flor de Lótus a segurança que lhe faltou entre a família.
“O que me dói é me criticarem porque não falei antes.
Sempre tive medo que não acreditassem em mim. Vivi todo esse tempo recolhida no meu mundo”, desabafa a professora, que durante os anos de silêncio desenvolveu compulsão alimentar.
Com 1,54m de altura, chegou a pesar 120 quilos. A obesidade era uma maneira distorcida de tentar se proteger. E , sobretudo, um pedido de atenção que ninguém conseguiu perceber.
Foi preciso coragem para tirar a própria mordaça e as vendas dos olhos dos familiares. “A família perfeita não existia. Meu irmão disse que viu uma vez, mas não falou nada. E minha mãe trabalhava demais”, conta.
A revelação, no entanto, não foi suficiente para afastar o seu agressor. Apenas uma determinação judicial foi capaz de tirálo de casa. Flor de Lótus está processando o pai, um severo inspetor de alunos de 62 anos.
Atitudes como a da professora ainda são uma exceção. Estima-se que apenas um entre cada dez casos é denunciado. “A maioria prefere manter o segredo.
Sente culpa e não entende por que não reagiu”, explica a psicóloga Fátima Panangeiro, especialista em traumas e criadora da comunidade do Orkut:
“Abuso... o preço do silêncio”.
Outro fator que dificulta a revelação desses crimes é a proximidade com o agressor. Uma pesquisa realizada pelo Núcleode Estudos e Pesquisas Forenses e Psicologia Jurídica (Nufor), do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, mostra que 81% dos abusadores são da família.
Os números são resultado de uma análise de 118 casos de abuso sexual acompanhados pelo núcleo entre 2004 a 2008.
Nesse levantamento, todos os agressores eram homens, dos quais 37% eram padrastos, 34% pais e 10% outros parentes. Os desconhecidos foram 19%. “Meu pai nunca me viu como uma filha. Sempre como uma mulher”, diz Lótus, com a voz embargada de mágoa. “Por pura sorte não engravidei. Não estava na minha vida ser mãe de um filho dele”, conta.
Os abusos sexuais chegaram ao fim. Os efeitos dele, ainda não.
Depois da denúncia, a professora tentou se matar três vezes. As lembranças de infância se perderam.
Apenas uma Hello Kitty é a certeza de que um dia ela foi criança. A insônia ainda precisa ser vencida. Sono tranquilo ela só tem de dia. É a consequência das madrugadas em claro rezando baixo para que não  acontecesse de novo. Ela não gosta de abraços e só se senta de pernas cruzadas. É para se proteger.
“O abuso é passado, mas ainda está 100% no meu presente”, justifica Flor de Lótus, que faz tratamento com antidepressivos, análise e terapia de energização. O desafio agora é transformar as feridas abertas em cicatrizes. “Não tenho como apagar essas marcas, mas posso conseguir conviver com elas sem dor”, diz.
A mulher de 32 anos está se dando chance de recuperar a adolescência perdida. E agora redescobre o próprio corpo, após ter emagrecido 43 quilos com uma cirurgia de redução do estômago. Tem até um rapaz de quem gosta e quer se dar ao direito das sensações das primeiras vezes.
“Quero beijar, namorar, sair de mãozinha dada, bem adolescente mesmo. E quero casar e ter filhos. Mas tenho que descobrir que sexo é bom. Para mim ainda é uma coisa ruim”, confessa Flor de Lótus.


O maior desejo da professora hoje, no entanto, é fazer jus ao codinome que escolheu. A Flor de Lótus emerge da lama e desabrocha em pétalas brancas imaculadas. É um símbolo da pureza. “Minha vida começou de novo. Agora sim estou em busca da minha felicidade”, explica esperançosa.


Comunidade do Orkut citadas:
Abuso... o preço do silêncio
Abuso Sexual Intrafamiliar
Estupro é Crime Hediondo
Estupro: nojento, estúpido
Fonte: Diário de São Paulo de 24/05/09 - Repórter Jussara Soares

Vítimas do silêncio

Violentada aos 11 anos, Marisa adotou 27 crianças

Um a um eles foram chegando, trazendo no olhar indefeso um pedido de proteção que a pedagoga Marisa Mello Mendes, de 44 anos, conhecia bem. As dores de seus meninos — como ela chama as 27 crianças que adotou vítimas de abuso sexual,
agressão física e maus-tratos — também são suas. Mãe e filhos se reconheciam não nas semelhanças físicas, mas nas marcas deixadas pela infância interrompida pela violência. Aos 11 anos, Marisa foi violentada pelo pai.
Ele estava drogado e sozinho com ela em uma casa de classe média de São Paulo.
Mais de 30 anos depois, o que mais dói em Marisa não são as lembranças daquele dia, que ela chama de “black sabbath” (sábado negro). É perceber que as mesmas cenas de abuso se repetem em quartos decorados por bonecas, carrinhos e brinquedos coloridos. Quem passa por isso sabe que um único toque pode dar tons cinzas às memórias de infância e tirar a cor de uma vida inteira.
O estado de São Paulo é o campeão de denúncias feitas ao Disque 100, do Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
Entre maio de 2003 e abril de 2009, foram relatados 12.565 casos de abuso e exploração sexual.
Dos 645 municípios paulistas, 476 já fizeram ao menos uma denúncia. A capital lidera o
ranking com 4.056 telefonemas.
Campinas é a cidade do interior com mais ligações: 356.

Tortura psicológica - DISQUE 100
No mesmo período, foram registradas 95.449 ligações de todo Brasil. Deste total, 10.683 ocorreram nos primeiros quatro meses deste ano. Dos casos de abusos sexual, que correspondem a 59% das denúncias ao Disque 100, 80% das vítimas são meninas.
O único número a se comemorar é o aumento das denúncias.
Em 2003, eram 12 por dia. Hoje, a média é de 89.
“Só a denúncia pode proteger a criança e evitar novas vítimas.
Cada vez mais recebemos casos de violência sexual dentro da família. 
O Disque 100 garante o anonimato de quem denuncia. 
Por ser um número fácil, a própria vítima é capaz de fazer a denúncia. Temos uma escuta especializada para adotar uma linguagem para crianças e adolescentes”, explica a assessora técnica do Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, Rosária Ferreira.
Uma simples ligação pode garantir não só o fim dos abusos sexuais, mas também o da tortura psicológica que a convivência com o agressor causa.
Marisa sabe a importância disso.
Após ser violentada, a única providência que assistiu ser tomada pela própria mãe foi mandar o pai dormir na sala.
“Fiquei muito machucada e eles cuidaram de mim. Mas ninguém me explicou nada.
Agiram como se nada tivesse acontecido. Não fizeram denúncia.
Eu queria morrer”, diz a pedagoga, que mesmo sendo uma menina decidiu que não valia mais a pena viver. Uma série de remédios a deixaram em coma. Aos 13 anos, resolveu sair de casa. Casou-se aos 14 com um marido violento. Com 19, tinha dois filhos e nenhuma perspectiva.
Foi quando a educadora então resolveu fazer pelos seus meninos o que não fizeram por ela. Proteger cada criança foi também o modo como Marisa encontrou para salvar a si mesma do sofrimento. “Eu me imaginava em cada uma delas.
Estava correndo atrás do meu próprio resgate”, reconhece.
Dar carinho, alimentação, educação e segurança aos 27 filhos adotivos, além dos três
biológicos, não era fácil. 
“Dormia três horas por noite. Fiquei doente”, lembra. Na terapia, descobriu que, ainda que salvasse todas as crianças do mundo, não resolveria o problema se não cuidasse de si mesma. “Acolhia todos meninos que apareciam no meu portão. Na verdade, eu não conseguia falar não era para mim mesma”, admite.
Marisa parou de adotar crianças, mas não se cansou de oferecer-lhes ajuda. A pedagoga é fundadora da ONG Parábola, que desde 1989 trabalha no atendimento a vítimas de diversos tipos de violência. Em 20 anos de trabalho, a Parábola,
por meio de apoio psicológico palestras em escolas, empresas, universidades, abrigos e favelas, já atendeu 22 mil crianças e adolescentes em todo o Brasil. Em 2008, foram
dois mil atendimentos, dos quais 40% ocorreram no estado de São Paulo. No primeiro
trimestre deste ano, 700.
“Se tem uma porta de entrada para esse sofrimento, tem uma porta de saída. Não importa há quanto tempo aconteceu o abuso: se foi ontem, há 20 ou há 30 anos. Nunca é tarde para ser tratado. É possível tirar forças das fraquezas”, diz.
Marisa fez a escolha que definiu o próprio destino. “Poderia ser vítima a vida inteira ou
dar a volta por cima. Foi o que eu fiz”, orgulha-se a mãe coragem de 30 filhos, com idades entre 16 e 31 anos, avó de nove netos, madrasta de dois enteados
e o anjo da guarda para 22 mil crianças e adolescentes.

Comunidades citadas:
Disque 100 e denuncie o abuso
Estupro: causas e consequências
Sos Abuso sexual
Vítimas do abuso sexual
Reportagem de Jussara Soares no Diário de São Paulo de 25/05/09  
Meninos não choram

G. foi abusado por um primo aos 6 anos e hoje diz ter atração por outras crianças
Pedofilia atinge 0,09% dos homens


Na infância, sempre lhe disseram para não aceitar balas de estranhos. Mas nunca lhe alertaram para os perigos dos doces que se ganham de mãos amigas.
Aos 43 anos, o carioca G. ainda sente a boca amargar ao falar dos abusos sexuais sofridos quando tinha apenas 6 anos de idade. Era com pirulitos, chicletes e outras guloseimas que um primo o atraía para o quarto nos fins de tarde. O rapaz, que brincava de bola com ele, dizia que era apenas um carinho. G. não sabia o que podia ou não ser feito com o seu corpo mirrado de menino, nem aprendeu a dizer “não” aos mais velhos.
“Sempre fui diferente dos outros garotos. Era muito envergonhado.
Parei até de jogar bola.
Vez ou outra, eu sentia muita tristeza. Na adolescência, não tive namorada. Era tímido demais para namorar. E, por muito tempo, achei que fosse homossexual”, recorda G., um funcionário público aposentado por transtorno generalizado de ansiedade.
Há 15 anos, ele faz terapia para superar o trauma.
O carioca esteve internado seis vezes em clínicas psiquiátricas no Rio de Janeiro. Por dia, são 11 comprimidos que ajudam a estabilizar o humor e a controlar a síndrome do pânico.
Teve problemas com alcoolismo.
Recentemente, passou a usar cocaína.
“Já nem queria mais continuar com essa loucura. Não consigo parar”, diz, quase que
pedindo desculpa a si mesmo.
No entanto, essa não é a maior batalha que G. trava com os próprios desejos. Nem é o motivo pelo qual mais se penitencia e se julga uma ameaça à sociedade. O funcionário público repete o comportamento do seu abusador: tem atração sexual
por crianças. “É mais forte que eu. É involuntário, mas às vezes penso em crianças”, confessa.
“É alarmante. Sei que é totalmente imoral e meu psiquiatra é muito severo. 
Sei o que é passar por um abuso”, continua o funcionário público. Ele garante
que jamais tocou em uma menina ou menino. E que tudo é fantasia.
“De vez em quando sinto vontade, mas eu me controlo. É por isso que me trato.”

Código da doença
Distorções como essa são sintomas da pedofilia. O distúrbio tem registro no código internacional de doença: CID F65.4.
 “A pedofilia do ponto de vista médico não é considerada um crime”, explica o psiquiatra Danilo Baltieri, coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC.
Para a legislação brasileira a pedofilia, a pornografia e a exploração infantil são crimes, sim. 
(Vide lei 12.015 que foi aprovada meses depois desta reportagem
Estupro, atentado violento ao pudor e corrupção de menores têm penas previstas que variam de um a dez anos de prisão. O Código Penal ainda estabelece punição para quem produz, vende e distribui imagens de crianças pela web.A pedofilia, no entanto, atinge apenas 0,9% dos homens.
Segundo Baltieri, apenas 30% dos abusadores podem ser considerados doentes. “É
uma constatação internacional que 70% cometem os abusos em decorrência de álcool ou drogas e não apresentam nenhuma doença psiquiátrica”, pontua o médico.
“Nem todo agressor sexual é pedófilo. E nem todo pedófilo é agressor. Seu desejo pode ficar apenas no campo da fantasia, usando, inclusive, imagens sem qualquer conteúdo erótico”, diz o professor de psicologia jurídica do Mackenzie,
Marcelo Moreira Neumann, coordenador do Projeto Acolher, que presta atendimento
psicológico a adolescentes que cometeram atos libidinosos e são assistidos pela Vara Especial da Infância e da Juventude do Brás. “Há muitos casos de adolescentes que abusam de crianças de 5 e 6 anos.”
Tratamento psicológico
A pedofilia é tratada com psicoterapia e medicações para controle de impulso sexual. “Quanto menor for a criança e quanto mais repetitivo tenha sido o abuso, e se o agressor é do mesmo gênero, maior a chance de repetir o ato do abuso na vida
adulta. É preciso buscar ajuda”, ressalta Baltieri, acrescentando que tratar os agressores sexuais é a melhor forma de prevenir novas vítimas de abuso.
Continuar os tratamentos psiquiátricos significa para G. não passar de vítima a agressor.
“Não é porque fizeram comigo que eu preciso repetir. Se não tivesse acontecido isso, eu poderia ter sido feliz”, desabafa o funcionário público.
Solteiro, ele vive isolado em dois cômodos no fundo da casa da mãe em um bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. O relacionamento com a família não é bom. Por muito tempo, usou a internet para tentar marcar encontro com mulheres.
Hoje, nem isso faz. A síndrome do pânico o mantém em casa. Passa a maior parte do
tempo gravando clássicos do cinema, que dá de presente ao psiquiatra, e ouvindo rock.
Para G., pouca coisa mudou durante esses anos. “Ainda me sinto um menino. Sinto o cheiro daquele quarto.” Para ele, todo entardecer tem o gosto da infância roubada.

Comunidades citadas
Combate à Pedofilia
Destranque o cadeado
Diga Não à Pedofilia
Pedofilia é crime! Denuncie!
Reportagem de Jussara no Diário de São Paulo de 26 de maio de 2009

Confesso que sobrevivi

Da sensação de abandono e desproteção, ela se lembrava. Da menina chorando com a roupa rasgada e do lenço sujo de sangue também. O que aquelas cenas que permaneciam vivas na memória significavam, não.
Fragmentos desconexos da infância faziam da pedagoga Marcia Longo, de 45 anos, uma mulher aos pedaços após sucessivas crises de depressão. Para ser inteira,
foi preciso juntar cada lembrança como quem monta um quebra-cabeça.
Como a maioria das vítimas de abuso sexual, Marcia tinha apenas vagas lembranças da violência que viveu. O tempo e o mundo de fantasia criado para não conviver com a própria dor se encarregaram de esconder nos recantos da alma os traumas
de infância. “Mas recuperar o passado foi o único caminho para a minha cura”, observa.
Aos 30 anos, quando conheceu um grupo de autoajuda para mulheres abusadas sexualmente no Rio de Janeiro, Marcia decidiu vasculhar o baú de memórias.
Ela se lembrava do pai lhe acariciando. E de uma vez ter prometido ao irmão mais velho “mil beijos” se ele a ensinasse a nadar. O rapaz de 17 anos achou pouco e cobrou outras carícias.
Marcia tinha 10 anos e muito medo. Aos poucos, ela descobriu que havia sido abusada sexualmente dos 3 aos 11 anos pelo pai. E aos 10 pelo irmão. A mãe sempre soube de tudo. “Lembrar nos faz sofrer muito. É como se estivesse revivendo tudo o
que aconteceu. São as mesmas angústias e dores”, diz.
O mais difícil foi aceitar que os carinhos paternos eram abusos.
Com a depressão da mãe, o pai assumiu a casa, inclusive o banho das crianças. Foi quando ele fez da filha caçula um brinquedo sexual. “Meu pai era carinhoso e isso me dava prazer. Senti culpa e vergonha. Tecnicamente, sei que era meu corpo
respondendo ao estímulo. Emocionalmente, é difícil”, revela.

Efeitos do trauma
Durante os 30 anos em que ficou em silêncio, Marcia viveu sob os efeitos do trauma. Crises de depressão, baixa autoestima, dificuldade de relacionamento com namorados e até mesmo com o filho mais velho. Marcia se casou aos 18 anos, quando saiu de casa. E não sabia a diferença entre carinho e abuso.
“Tinha medo de abraçar e beijar porque achava que era abuso.
Não conseguia dizer que amava o meu filho. Quando meu pai abusava de mim, ele também dizia eu te amo.”
Ao recuperar a própria história, Marcia aprendeu o caminho da superação. O resultado do processo ela transformou no livro “Eu me lembro...”, disponível apenas para download na internet (www.florescer.multiply.com).
É lá que ela ensina como chegar às mais obscuras memórias de infância e a sobreviver a todas elas.
A pedagoga ainda escreveu o livro “Abuso sexual na infância: como lidar com isso?” — uma cartilha para pais e professores.
E faz palestras em escolas de Araras, onde coordena um abrigo para crianças e adolescentes.
Ela também criou o grupo de apoio Florescer, que reúne vítimas de abuso pelo
MSN, na internet.
Libertar-se do silêncio implicou se afastar da família, mas isso também permitiu a Marcia olhar para trás sem sentir mágoas. “Vejo o meu passado e não sofro mais”, diz.
“A felicidade hoje é completa. Eu sobrevivi.”

Perceba os sinais na criança
Dores de cabeça, vômitos e outra dificuldades digestivas que têm motivo psicológico
Dor, inchaço e lesão nos orgãos genitais
Roupas íntimas rasgadas ou manchadas de sangue
Medo
Oscilações de humor, tais como retraído e extrovertido
Baixa autoestima
Masturba-se compulsivamente
Comportamento destrutivo, agressivo e raivoso
Expressão de afeto sensualizada
Desenhar orgãos genitais com detalhes
Perda ou excesso de apetite
Sono perturbado, pesadelos frequentes, gritos e insônia
Fugas de casa
Uso de álcool e drogas
Queda no rendimento escolar
O que você pode fazer

Fale com a criança em um ambiente tranquilo e seguro
Ele deve ser ouvida sozinha
Evite interrupções, para não perder a confiança
A conversa pode usar jogos, desenhos e livros
Não critique nem duvide de que a vítima fala a verdade
Não pressione a criança para obter informação, não pergunte detalhes da violência e não a faça repetir a história
A criança deve se expressar com sua próprias palavras. Use linguagem simples
Jamais diga "isso não foi nada" e "não precisa chorar", pois a vítima revive a dor, a raiva, a culpa e o medo quando fala
Reforce que a criança não teve culpa
Só revele a identidade da criança a quem possa ajudá-la
Faça denúncia ao Conselho Tutelar, às delegacias especializadas
ou ao DISQUE 100


Comunidades citadas
Abuso psicológico
Eu me lembro...
Jardim das borboleta
Pele de cristal

Reportagem de Jussara Soares no Diário de São Paulo de 27/05/09

Não era brincadeira 

O caso d
a nadadora Joanna Maranhão  
Aos 21 anos, a nadadora Joanna Maranhão mergulha todos os dias em busca do melhor tempo. E treina com afinco para aprimorar sua técnica. Empurra a água com força, perseguindo recordes para a natação brasileira.
A maior superação, no entanto, ela tem que conquistar fora da piscina: vencer os traumas do abuso sexual.
Às vésperas dos Jogos Olímpicos de Pequim, no ano passado, Joanna estava longe do esgotamento físico. No entanto, emocionalmente, ela já havia chegado ao seu limite. Em público, a nadadora acusou o ex-treinador e amigo da família, Eugênio Miranda, de ter abusado sexualmente dela quando tinha apenas 9 anos de idade.
“Retraí todas as lembranças.
Ia convivendo com isso, mas uma hora ia ter que enfrentar. O trauma estava me afetando como nadadora, filha e namorada.
Estava cada vez mais sozinha”, explica a jovem, que passou a adolescência alternando depressão e agressividade.
O desabafo não colocaria o ex-treinador na cadeia. O tempo não deixou provas, apenas as marcas dos assédios sofridos dentro da piscina e na casa dele.
Joanna era amiga da filha de Eugênio.
Falar apenas a deixaria livre para seguir em frente. “O silêncio é a pior coisa. Contar foi doloroso, mas me deixou mais leve, mais corajosa para enfrentar a vida”, afirma.
Logo depois dos abusos, a nadadora tentou falar sobre o assunto com a mãe, a médica Teresinha Maranhão, de 49 anos. Joanna ainda não tinha despertado para a sexualidade.
Portanto, não entendia o que havia acontecido, só sabia que doía. “Sentia medo e um pouco de rancor pela minha família não ter compreendido. Você coloca a culpa em todo mundo e se sente culpada também”, afirma.
“Achei que ela pudesse ter interpretado mal um carinho.
Nossas famílias eram amigas”, justifica Teresinha, que começou a desconfiar de que aquilo era realmente sério quando a filha decidiu mudar de clube.


Livre para seguir

A psicóloga Dalka Ferrari, coordenadora do Centro de Referência às Vítimas da Violência do Instituto Sedes Sapientiae, alerta que é preciso estar atento ao que
os filhos dizem. Principalmente porque eles têm dificuldade de se expressar.
“As crianças param de falar se não lhe dão atenção. É preciso ficar atento porque
elas falam por linhas tortas.”
Saber ouvir também pode garantir a recuperação da vítima.
“Quanto mais cedo começar o trabalho de apoio, menos difícil é superar o abuso”, diz o médico Theo Lerner, do Programa de Atenção à Violência Sexual (Pavas), da Faculdade de Saúde Pública da USP.
O ex-treinador nega as acusações e ingressou com uma ação contra Joanna e a mãe.
Como o processo é baseado na Lei de Imprensa, revogada no dia 30 de abril, o advogado de Eugênio Miranda estuda pedir uma readequação da ação pelo Código Penal. “Além disso, vamos ingressar com uma ação cível de indenização por danos
morais”, explica o advogado João Olympio.
Joanna deixa que o marido, o estudante de direito Rafael Franco de Sá, de 26 anos,
acompanhe o processo. A nadadora, que acaba de trocar Recife por Belo Horizonte para treinar no Minas Tênis Clube, tem outras prioridades. “Não posso viver em função disso.”
A repercussão da sua denúncia já a tornou um exemplo para outras vítimas. “Muitas
me agradecem porque conseguiram fazer o mesmo.” Apesar disso, Joanna avisa que não pretende mais falar dos abusos.
“Foi um desabafo. E ainda estou aprendendo a conviver com isso.” A nadadora voltará a ficar em silêncio, só que agora para descobrir o caminho que lhe devolverá a tranquilidade dentro e fora da piscina.

De olhos bem abertos

As crianças dificilmente fantasiam sobre a experiencia de abuso sexual. A maioria não possui uma noção clara sobre o que é sexualidade e o que pode ou não ser feito com o seu corpo.

Meninos correm os mesmos riscos que as meninas de serem abusados. Para eles, é mais difícil revelar a violência por causa do preconceito. Muitos acreditam ser uma fraqueza, uma "simples" iniciação sexual ou homossexualidade

O abuso sexual não ocorre ocorre apenas em famílias desestruturadas. A violência acontece, inclusive, em famílias acima de qualquer suspeita. Isto dificulta ainda mais a denúncia e a apuração dos fatos

Abusadores não monstros. Para conseguir seu objetivo, eles precisam se tornar amigos e ganhar a confiança da vítima, dos seus pais e responsáveis.

Fique atento

Falar sobre abuso sexual protege a criança. Éa informação que permite a ela conhecer o próprio corpo e de maneira ele pode ser tocado

Fonte desse texto, que foi reproduzido pelo Diário de São Paulo, "Abuso sexual na infância: como lidar com isso?

De que forma pode ocorrer o abuso sexual?
R – O abuso sexual pode ocorrer de diversas formas e em qualquer classe social, das seguintes maneiras:

- Sem contato físico: por meio de “cantadas” obscenas, exibição dos órgãos sexuais com intenção erótica, pornografia infantil (fotos e poses pornográficas ou de sexo explícito com crianças e adolescentes);

- Com contato físico: por meio de beijos, carícias nos órgãos sexuais, ato sexual (oral,
anal e vaginal);

- Sem emprego de violência: usando-se sedução, persuação, mediante presentes
e/ou mentiras;

- Com emprego de violência: usando-se força física ou ameaças verbais;

- Na forma de exploração sexual: pedir ou obrigar a criança ou o jovem a participar de
atos sexuais em troca de dinheiro ou outra forma de pagamento (passeios, presentes, comida, etc.).


Fonte: Cartilha da Pedofilia do site Todos Contra a Pedofilia, reproduzida aqui pelo Diário de São Paulo de 28/05/09.

Comunidades citadas
CONTRA VIOLÊNCIA ÀS CRIANÇAS
Contra o abuso sexual
Não à violência sexual
Pedofilia, a inocência perdida 
Reportagem de Jussara Soares no Diário de São Paulo de 27/05/09 

Quem é o ABUSADOR?
Parentesco
37% - Padrasto
34% - Pai
19% - Desconhecidos
10% - Outros parentes

A idade do abusador
57% - 35 a 45 anos
18% - 25 a 34 anos
13% - 46 a 55 anos
07% - 18 a 24 anos
05% - mais de 56 anos

Tempo do abuso
60% dos casos duram 1 a 12 meses
30% dos casos duram 1 a 04 anos
10% dos casos duram mais de 04 anos
.
Fonte consultada pela repórter Jusssara Soares: Núcleo de Estudos e Pesquisas Foresnses de Psicologia Jurídica do Hospital das Clínicas da USP

Perfil do abusador

Os abusadores, na maioria das vezes, são pessoas aparentemente normais e do círculo de confiança das crianças e adolescentes, como, por exemplo, familiares, amigos, vizinhos,
colegas ou mesmo os seus responsáveis

Famílias incestuosas tendem a ser quietas e se relacionam pouco. Os pais são autoritários e as mães, submissas

É extremamente protetor ou possessivo, não permitindo contato social

É sedutor

Acredita que o contato sexual é uma forma de amor familiar

Faz uso de susbstância como álcool e outras drogas ilícitas

É frequente que tenha sofrido abuso físico, emocional ou sexual na infância

Desconhecidos podem abordar a vítima pessoalmente ou pela internet

Muitos usam sites de relaciomento como Orkut, Myspace, Gazzag, MSN e salas de bate-papo.
Costumam se passar por crianças e adolescentes até criar um laço de amizade

Fonte citada pela repórter: Cartilha da CPI da Pedofilia e "Abuso sexual na infância: como lidar com isso?"
Frases

- Falar é doloroso, mas fiquei mais leve
- Eu poderia ter sido feliz
- Recuperar o passado foi o caminho para a minha cura

.
.
Onde procurar ajuda
.
NUCLEO DE REFERÊNCIA ÀS VÍTIMAS DO INSTITUTO SEDES SAPIENTAE - N.R.V.V.
Realiza tratamento individual e familiar.Equipe com psicológos e assistentes sociais.
Rua Ministro de Godoi, 1484 - Perdizes - São Paulo - SP
Telefone: 11-3866-2756/2729
E-mail: nrvv@sedes.org.br

INSTITUIÇÃO FILANTROPICA E EDUCACIONAL PARÁBOLA
www.parabola.com.brparabola@parabola.com.br
Telefone: 11-8753-8283
.
CENTRO DE REFERÊNCIA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - CERCA
Atendimento social, psicológico e jurídico de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual e de maus-tratos
Av. Brigadeiro Luís Antonio, 554 - centro - São Paulo - SP
Telefones: 11-3104-4850 e 3115-6119
.
PROGRAMA DE ATENDIMENTO À VIOLÊNCIA SEXUAL E ABORTO LEGAL - HOSPITAL PÉROLA BYINGTON
Atendimento médico, psicológico e sexual e de maus-tratos
Av.Brigadeiro Luís Antônio,683 - centro - São Paulo - SP
Telefone: 3242-3433
A série de reportagem acima foi produzida por JUSSARA SOARES para o jornal Diário de São Paulo e foi publicada de DOMINGO 24/05/09 à QUINTA-FEIRA dia 28/05/09.

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