Quer entender por que não acontece nada com congressistas  envolvidos em escândalos, por mais que haja contundentes evidências de que  violam o decoro dia sim e o outro também?
É só prestar atenção aos números  da pesquisa Datafolha, em que 74% dizem querer o afastamento de Sarney. É  ilusório.
Detalhemos o resultado: apenas 78% tomaram conhecimento das  denúncias. Apenas?, perguntará você. Sim, apenas. Neste caso, não se trata de  campanha da mídia impressa, ao contrário do que pretende o clã Sarney, que até  buscou -e conseguiu- obter a censura de um jornal, o "Estadão", o que  necessariamente se estendeu aos demais meios de comunicação.
As denúncias  estão em toda a parte, inclusive nos meios realmente de massa (TV e rádios).
Que quase um quarto do eleitorado não tenha tomado conhecimento delas diz  tudo a respeito da cidadania no Brasil. Mas há detalhes ainda mais deprimentes:  dos 78% que, sim, tomaram conhecimento das denúncias, só 24% se dizem bem  informados.
Tem-se, pois, que pouco menos de 19% do eleitorado (24% de 78%)  está em condições de indignar-se, porque, para isso, é preciso estar antenado,  certo?
Inverte-se aqui a frase daquele deputado que dizia "lixar-se para a  opinião pública". A tal de opinião pública é que se lixa para as denúncias,  possivelmente porque prevalece a ideia de que todo político é ladrão. Uma  acusação a mais ou a menos contra um político a mais ou a menos não faz,  portanto, a mais remota diferença.
Ah, os que se dizem petistas desmentem o  argumento calhorda de que há uma perseguição a Sarney para atingir Lula. São  eles, com 73%, os vice-campeões em cravar "sim, Sarney está envolvido", acima da  média (66%) e atrás apenas dos tucanos. Aceitam, pois, que a "perseguição" é dos  fatos.
Texto de Clóvis Rossi na Folha de São Paulo de 22/08/08
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