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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Pessimismo sem razão

Antonio Delfim Netto escreve:
Pessimismo

Quando olhamos a situação social e econômica do mundo, não podemos deixar de sentir perplexidade acompanhada de um sentimento de apreensão. A sensação é a de que ele está caindo aos pedaços.

Não há para onde fugir. Parece não haver esperança que nossos filhos e netos viverão mais tranquilos e melhores do que nós. Uma nuvem escura e um nevoeiro opaco transmitem medo aos empresários (que não veem por que investir), intimidam os consumidores (que não confiam na continuidade do seu emprego) e acovardam o sistema financeiro (que teme ver-se subitamente envolvido num descasamento mortal entre seus ativos e passivos).

A explicação para tudo isso é que parte do sistema financeiro internacional transformou-se numa fonte inesgotável de patifarias. Estamos a ver o que ele foi capaz de fazer com a Libor (London Interbank Offered Rate), a taxa de juros interbancária estabelecida em Londres (o centro financeiro mais importante do mundo), que durante anos foi determinada pela Associação dos Banqueiros Britânicos e parecia ser o último reduto de moralidade que lhe restara.

A estrutura produtiva e financeira mundial ruiu porque foi destruída a frágil base sobre a qual é construída: a confiança dos agentes sociais nas suas atividades econômicas e financeiras.

O ideal seria reconstruir essa confiança simultaneamente em todos os países, pois elas se autoestimulariam e haveria uma retomada econômica generalizada e de menor custo. Isso parece pouco provável pelo descompasso em que os países se encontram no processo de recuperação. Cada um, portanto, sem fechar os olhos para o que está acontecendo aos outros, tem de acelerar a sua recuperação para minimizar os sacrifícios de ajuste.

No caso brasileiro, isso significa olhar objetivamente para a nuvem escura e enxergar mais longe no nevoeiro, para diminuir o pessimismo inerente à economia trimestral que acabou nos dominando.

Será aceitável concordar com o fato de que a única coisa que importa é o "balanço trimestral" para seduzir os "investidores"? Não há dúvida de que poderíamos estar melhor: mais educação e mais saúde com uma pouco melhor administração, algumas mudanças na política tributária e no mercado de trabalho, uma cooptação mais rápida do setor privado com concessões de projetos de infraestrutura com taxas de retorno realistas etc.

Não há, também, a menor dúvida de que, relativamente ao resto do mundo, não fazemos papel feio na fotografia. E mais, há uma clara determinação política da administração federal naquela direção.

Nossas condições objetivas não sustentam o pessimismo que domina alguns setores da sociedade brasileira.
De Antonio Delfim Netto na Folha de São Paulo de 25/07/2012


Josué Gomes da Silva escreve: 
Gigante pela própria natureza
Em contrapartida a certo ceticismo que se observa quanto às perspectivas de o Brasil seguir enfrentando com sucesso a crise internacional, um dos mais reconhecidos economistas mundiais, Dani Rodrik, professor da Universidade Harvard (EUA), salienta nossa capacidade de crescer 5% ao ano, a despeito do cenário de baixa expansão que deverá permear a economia global ainda por longo tempo.


O mestre não ignora as dificuldades advindas da estagnação nos países desenvolvidos e da desaceleração chinesa. Mas demonstra conhecer as virtudes brasileiras para superar adversidades: contas públicas equilibradas, democracia consolidada e mercado interno pujante.


Brasil, Índia e Coreia do Sul, na visão do economista, são os países que têm melhor potencial para enfrentar problemas da economia.


Somam-se a essas condições estruturais, na visão do professor Rodrik, o impacto positivo das medidas anticíclicas adotadas pelo governo, como a redução de tributos para alguns setores e o reequilíbrio de duas variáveis macroeconômicas fundamentais -juros e câmbio, que têm contribuído para manter o nível de atividade em patamares razoáveis.


Também concordo com Dani Rodrik quanto à importância da ação do BNDES. Ele, que palestrou em seminário comemorativo dos 60 anos da instituição, salientou o quanto são significativos os financiamentos de longo prazo disponibilizados pelo banco para o investimento da indústria, do setor de infraestrutura e de outros segmentos de nossa economia.


O diagnóstico feito pelo economista reflete algumas políticas públicas implantadas com eficácia pelo Brasil nas duas últimas décadas.


E ainda temos numerosos pontos positivos não abordados pelo professor. A disponibilidade de água potável, por exemplo, fator fundamental para a vida e um bem humano cada vez mais escasso.


As reservas de água doce do Brasil somam 12% das do planeta, o dobro das chinesas e cerca de duas vezes e meia das americanas. Quando levamos em conta as populações -a chinesa equivalente a 19% da mundial, a dos EUA, cerca de 4%, e a do Brasil, de pouco menos de 3%-, vemos que nossa disponibilidade per capita de água é 12 vezes maior que a chinesa e quase quatro vezes maior que a americana.


Esse e outros fatores altamente favoráveis ao Brasil, e que abordaremos em próximas colunas, dão a dimensão e a força de nosso país.


Se economistas da envergadura de Dani Rodrik expressam sua confiança no Brasil, será que não deveríamos compartilhar tal sentimento, trabalhando com mais força e otimismo para, de fato, continuar crescendo?
Da Folha de São Paulo de 29/07/2012

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