O mimo de R$ 2 bi oferecido aos cotistas dos fundos repete o truque de criar dinheiro por meio da ilusão
No papel de Mãe da Banca, um pedaço da ekipekonômica quer desatar o nó do rendimento das cadernetas de poupança do andar de baixo desonerando em 30% a carga tributária que incide sobre os ganhos de quem aplica nos fundos de investimento do andar de cima. Essa providência destina-se a preservar a ficção de que a economia brasileira pode funcionar cevando uma classe de rentistas e uma banca oligopolizada. Os fundos de investimento têm 10 milhões de cotistas (o que não significa que sejam 10 milhões de pessoas). Nas cadernetas, 45 milhões de contas têm saldo inferior a R$ 100. Para agradar a banca e dar conforto aos cotistas, arma-se uma renúncia fiscal de pelo menos R$ 2 bilhões.
O Banco Central advertiu para o surgimento de problemas financeiros caso a Bolsa Copom (10,25% ao ano) caia abaixo do rendimento das cadernetas, garantida por um indexador, a TR, mais 6% de juros. Essa convergência, quando ocorrer, será um inevitável reflexo de uma nova realidade, a de um país com juros de um dígito. Transformando um indicador de saúde num problema, o governo quer subsidiar os ganhos de rentistas que se inquietam quando o rendimento de seus papéis nos fundos cai abaixo de 0,7% ao mês.
A caderneta de poupança só se tornará mais atraente para cotistas que puseram seu dinheiro em bancos que cobram taxas de administração superiores a 1,5% ao ano. Os repórteres Toni Sciarretta e Fabrício Vieira revelaram que, na média, no ano passado o mercado cobrou 2,03% e ganhou R$ 17 bilhões (dois Bolsa Família). O "Tesouro Direto", do Banco Central, paga a Selic e toma menos que a metade disso. A taxa da banca foi de 1,9% em 2000 para 2,71% em 2006. A Caixa Econômica, contudo, cobra 1,5% ao ano para administrar investimentos de R$ 5.000 a R$ 10 mil por seis meses.
A comparação dos rendimentos da poupança com o dos fundos tornou-se motivo de alarme porque eles se tornaram convergentes. Quando divergiram, sempre em benefício do andar de cima, foram tratados como se fossem um código genético da sociedade brasileira.
O rendimento indexado das cadernetas socorre o andar de baixo, mas deverá ser revisto, pois poderá se transformar na trava que impede a queda dos juros do andar de cima. Isso pode ser feito taxando-se o rendimento dos depósitos superiores a um teto, R$ 10 mil, no palpite. Também pode-se chegar a um quadro em que o governo seja obrigado a arrostar uma medida impopular.
A proposta saiu da cabeça de Bernard Appy, secretário especial do ministro Guido Mantega. Ela recorre ao velho truque da criação de dinheiro por meio da ilusão. O banco cobra 4% de taxa de administração, mas o investidor não liga, porque a Bolsa Copom garante sua renda. O governo, por seu lado, faz de conta que não vê que o problema está na taxa do banco, não na Selic. Na noutra ponta, a caderneta tem o seu rendimento indexado, o sujeito é levado a supor que essa garantia é eterna e Nosso Guia faz de conta que inventou a poupança. Fingindo que as taxas bancárias são razoáveis e que a indexação das cadernetas é uma fatalidade política, os doutores pretendem criar mais uma ilusão, subsidiando o rendimento dos investidores dos fundos por meio de um ataque à Bolsa da Viúva.
Não é a irracionalidade quem provoca a inflação, mas não há inflação sem ekipekonômicas dispostas a usufruir os dividendos políticos da ilusão do dinheiro.
No papel de Mãe da Banca, um pedaço da ekipekonômica quer desatar o nó do rendimento das cadernetas de poupança do andar de baixo desonerando em 30% a carga tributária que incide sobre os ganhos de quem aplica nos fundos de investimento do andar de cima. Essa providência destina-se a preservar a ficção de que a economia brasileira pode funcionar cevando uma classe de rentistas e uma banca oligopolizada. Os fundos de investimento têm 10 milhões de cotistas (o que não significa que sejam 10 milhões de pessoas). Nas cadernetas, 45 milhões de contas têm saldo inferior a R$ 100. Para agradar a banca e dar conforto aos cotistas, arma-se uma renúncia fiscal de pelo menos R$ 2 bilhões.
O Banco Central advertiu para o surgimento de problemas financeiros caso a Bolsa Copom (10,25% ao ano) caia abaixo do rendimento das cadernetas, garantida por um indexador, a TR, mais 6% de juros. Essa convergência, quando ocorrer, será um inevitável reflexo de uma nova realidade, a de um país com juros de um dígito. Transformando um indicador de saúde num problema, o governo quer subsidiar os ganhos de rentistas que se inquietam quando o rendimento de seus papéis nos fundos cai abaixo de 0,7% ao mês.
A caderneta de poupança só se tornará mais atraente para cotistas que puseram seu dinheiro em bancos que cobram taxas de administração superiores a 1,5% ao ano. Os repórteres Toni Sciarretta e Fabrício Vieira revelaram que, na média, no ano passado o mercado cobrou 2,03% e ganhou R$ 17 bilhões (dois Bolsa Família). O "Tesouro Direto", do Banco Central, paga a Selic e toma menos que a metade disso. A taxa da banca foi de 1,9% em 2000 para 2,71% em 2006. A Caixa Econômica, contudo, cobra 1,5% ao ano para administrar investimentos de R$ 5.000 a R$ 10 mil por seis meses.
A comparação dos rendimentos da poupança com o dos fundos tornou-se motivo de alarme porque eles se tornaram convergentes. Quando divergiram, sempre em benefício do andar de cima, foram tratados como se fossem um código genético da sociedade brasileira.
O rendimento indexado das cadernetas socorre o andar de baixo, mas deverá ser revisto, pois poderá se transformar na trava que impede a queda dos juros do andar de cima. Isso pode ser feito taxando-se o rendimento dos depósitos superiores a um teto, R$ 10 mil, no palpite. Também pode-se chegar a um quadro em que o governo seja obrigado a arrostar uma medida impopular.
A proposta saiu da cabeça de Bernard Appy, secretário especial do ministro Guido Mantega. Ela recorre ao velho truque da criação de dinheiro por meio da ilusão. O banco cobra 4% de taxa de administração, mas o investidor não liga, porque a Bolsa Copom garante sua renda. O governo, por seu lado, faz de conta que não vê que o problema está na taxa do banco, não na Selic. Na noutra ponta, a caderneta tem o seu rendimento indexado, o sujeito é levado a supor que essa garantia é eterna e Nosso Guia faz de conta que inventou a poupança. Fingindo que as taxas bancárias são razoáveis e que a indexação das cadernetas é uma fatalidade política, os doutores pretendem criar mais uma ilusão, subsidiando o rendimento dos investidores dos fundos por meio de um ataque à Bolsa da Viúva.
Não é a irracionalidade quem provoca a inflação, mas não há inflação sem ekipekonômicas dispostas a usufruir os dividendos políticos da ilusão do dinheiro.
De Elio Gaspari na Folha de São Paulo de 13/05/2009
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