ÉPOCA lança campanha #partocomrespeito para levantar a discussão sobre os direitos das grávidas e suas famílias
“Você sofreu abusos”. Quando a paranaense Kelly Mafra publicou seu relato de parto em uma comunidade no Facebook para mães, em 2014, não imaginava que o primeiro comentário que receberia seria esse. A experiência na maternidade, no nascimento do primeiro filho, havia ficado muito aquém de suas expectativas mas, até aquele momento, ela não se via como vítima. Ela havia pensado na rudeza da equipe médica como um tipo de mal inevitável. Na sala de parto, não haviam permitido a entrada do marido de Kelly, apesar de o direito ser garantido em lei desde 2005. Quando as dores das contrações chegaram, ouviu: “Na hora de fazer, não gostou?” e “Não grita, vai assustar as outras mães”.
Depois que o bebê nasceu, disseram que ela levaria o “ponto do marido”, para “continuar casada”. No parto normal de Kelly, o médico fez um pequeno corte no períneo (um grupo de músculos que sustenta os órgãos pélvicos) para facilitar a saída o bebê, a episiotomia. Recomendada em alguns casos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil o procedimento é regra. Kelly não foi avisada. Na sutura, o médico deu um ponto a mais para apertar a abertura da vagina. O procedimento, sem base científica, acompanha a crença de que a vagina se alargaria após o parto, tornando o sexo insatisfatório para o homem. Kelly ainda sente dores, uma vez que a elasticidade normal do órgão foi reduzida. A história de Kelly e de outras mulheres ilustra um drama vivido por uma em cada quatro brasileiras que deram à luz, segundo a pesquisa Nascer no Brasil, coordenada pela Fiocruz: a violência obstétrica.
O termo agrupa atos de desrespeito, assédio moral e físico, abuso e negligência, e só nos últimos anos vem sendo levado a sério por pioneiros na comunidade dos profissionais de saúde, administradores hospitalares e na Justiça. “Ir para uma instituição para ter filho e ser desrespeitada é um problema de saúde”, diz a obstetra Suzanne Serruya, diretora da Organização Pan-Americana da Saúde. Em 2014, a Organização Mundial da Saúde publicou um documento condenando a violência obstétrica. Ela afirma que essas práticas foram consideradas normais até o fim do século XX. Nos anos 1990, já havia atenção ao assunto entre defensores de direitos das mulheres, mas a maior parte da comunidade médica não considerava o tema merecedor de debate. O primeiro documento científico sobre falta de respeito no parto é de 2000. “Por 30 anos, as mulheres se posicionaram dizendo ‘não queremos ser maltratadas'. Finalmente, conseguiram mover instituições a tomar um posicionamento”, afirma Suzanne. Na Venezuela e no México, a legislação vigente em ambos países inclui um tópico específico sobre violência obstétrica. No Brasil, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia a Obstetrícia publicou que é preciso humanizar o parto e que produzirá uma cartilha "de boas práticas em obstetrícia". Para Suzanne, o desrespeito para com a parturiente, sua criança e sua família ainda é uma prática comum e considerada normal em muitos hospitais e maternidades.
A convite de ÉPOCA, as personagens de uma reportagem publicada na edição que está nas bancas, a atriz Grazielli Massafera e a jornalista e apresentadora Astrid Fontenelle posaram para a campanha #partocomrespeito, que ÉPOCA lança agora nas redes sociais, não apenas para as mães nem para as mulheres. Como a reportagem mostra, o parto com respeito é um direito de todos, e importante para toda a sociedade.
Se você também sentiu vontade de abraçar esta causa, escreva sua mensagem em uma folha, tire uma foto segurando o cartaz e, na hora de compartilhar, use a hashtag #partocomrespeito. Se você foi vítima, mande sua história, com nome completo e telefone, para epoca@edglobo.com.br. As histórias dos leitores serão publicadas no site de ÉPOCA.
Reportagem de THAIS LAZZERI na revista ÉPOCA
http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/07/violencia-obstetrica-1-em-cada-4-brasileiras-diz-ter-sofrido-abuso-no-parto.html
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