Já sabemos quais práticas são eficazes no ensino, agora é preciso que sejam adotadas pela rede pública
É possível quebrar a armadilha intergeracional da pobreza
A fundação Lemann, entidade sem fins lucrativos cujo objetivo é contribuir para melhorar o aprendizado dos alunos brasileiros, acaba de divulgar o relatório "Excelência com Equidade," disponível no site fundacaolemann.org.br/novidades. O objetivo do estudo foi investigar as práticas das escolas públicas que conseguem elevado desempenho para todos os alunos, apesar de atenderem estudantes de baixo nível socioeconômico.É possível quebrar a armadilha intergeracional da pobreza
Como apontado na introdução do estudo, há grande correlação entre o desempenho dos estudantes e o nível socioeconômico dos pais. No entanto, correlação não é causalidade nem condenação. A escola pública de qualidade é a arma mais poderosa contra a armadilha intergeracional da pobreza.
Além de atender a alunos de baixo nível socioeconômico, a escola tinha que apresentar Índice de Desenvolvimento Educacional (Ideb) de no mínimo 6 em 2011, para uma média nacional das escolas públicas de 4,7, com 70% dos alunos no nível adequado de proficiência e com um máximo de 5% no nível insuficiente.
O estudo identificou 215 escolas que atenderam aos critérios, sendo 109 de Minas Gerais --pouco mais, portanto, da metade.
O estudo identificou quatro práticas comuns às escolas que funcionam: definir metas e ter claro o que se quer alcançar; acompanhar de perto, e continuamente, o aprendizado dos alunos; usar dados sobre o aprendizado para embasar ações pedagógicas; e fazer da escola um ambiente agradável e propício ao aprendizado.
Além dessas práticas, o estudo notou que a forma de implantá-las era importante para o sucesso. As escolas que funcionam conseguiram criar um fluxo aberto e transparente de informações, implantaram mudanças respeitando o conhecimento e a experiência dos professores, além de criarem estratégia para mobilizar outros atores da comunidade com o objetivo de aumentar o sucesso escolar dos alunos.
Recente estudo dos pesquisadores da Universidade Harvard (EUA) Will Dubbie e Roland Fryer analisou as práticas das escolas que funcionam na cidade de Nova York. Foi um trabalho de pesquisa muito detalhado, que envolveu longas entrevistas com diretores, professores e alunos, além da filmagem de muitas horas de aulas.
Um elemento muito importante no estudo é que havia forte variabilidade de opções e estratégias pedagógicas entre as escolas.
Um primeiro resultado, padrão nessa literatura, foi que maior oferta de recursos --gasto por aluno, menor número de alunos em sala de aula, ou maior parcela de professores com pós-graduação-- não tem impacto sobre o desempenho dos alunos, ou, quando tem, é na direção inversa: mais recursos reduzem o desempenho dos alunos!
Diferentemente, cinco práticas, que há mais de 40 anos são identificadas como eficazes por estudos qualitativos, apresentaram fortíssimo impacto positivo sobre o desempenho dos alunos: feedback constante para professores; usar dados e resultados de avaliações para guiar ensino; tutoria extra-aula intensiva para alunos; aumento do número de horas-aula; expectativas altas quanto à disciplina e ao comportamento.
Apesar de algumas diferenças, há muitas similaridades entre a lista do estudo da Fundação Lemann e os resultados de Dubbie e Fryer.
Sabemos, portanto, que é possível quebrar a armadilha intergeracional da pobreza e sabemos o que fazer para que escolas funcionem. O próximo passo é saber o que precisamos fazer para que todas as escolas das redes públicas de ensino copiem essas práticas.
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