O tráfico não vai esperar pela  descriminalização da maconha, e já está se organizando para, quando acontecer,  não ser apanhado de bermuda, boné ao contrário e chinelo. O novo status da droga  exigirá alto profissionalismo em termos de produção, transporte, distribuição e  venda.
As empresas que se formarão para fabricar e vender maconha precisarão  passar, por exemplo, da absoluta informalidade para certas obrigações junto aos  ministérios do Trabalho e da Fazenda. Como reagirão ao descobrir que, por causa  de carteira assinada, contribuição ao INSS, 13º salário, férias e demais  encargos, seus funcionários lhes custarão o dobro do salário que elas lhes  pagarão?
Como isto aqui é o Brasil, não a romântica Holanda, pode-se esperar  uma feroz concorrência. Alguns fabricantes logo começarão a oferecer o produto  já enrolado, em embalagens de 20, como os maços do cigarro careta. Outros  competirão pelo teor light ou "normal" de THC, e os consumidores poderão  escolher entre um largo espectro de fumos, desde o "da lata" até o mais  vagabundo, de estrume. Dúvidas no fumacê: haverá baseados com filtro, para  usuários com garganta mais sensível? E qual marca criará a maconha com mentol,  para atrair o mercado feminino?
Mais dúvidas: os baseados, livremente  vendidos, sofrerão as restrições que se aplicam aos cigarros comuns? Afinal, o  produto migrará das atuais bocas e biroscas clandestinas para os balcões de  áreas nobres, como shoppings, cafés e tabacarias. Poderão ser anunciados em  displays? As embalagens serão obrigadas a imprimir aquelas imagens horríveis e  advertências do Ministério da Saúde?
Será permitido dirigir doidão? Será  proibido fumar em recinto fechado? E, mesmo na rua, os fumantes passivos  fuzilarão os maconheiros com o olhar mortífero que disparam contra os adeptos do  oliúde?
De Ruy Castro na folha de São Paulo de 13/07/2011
Veja o vídeo clipe Fumacê dos Golden Boys
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