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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Aquecimento global: é inevitável o suicídio coletivo?

É inevitável o suicídio coletivo?

Se algo não mudar, vamos chegar ao fim do século com mudança de clima que  ameaça a civilização
Em 10 mil anos de história, é a primeira vez que a humanidade tem o poder de cometer suicídio coletivo. Era essa a tese central de Emmanuel Mounier em "O Grande Medo do Século 20". Publicado em 1947, o livro se referia à ameaça de uma catástrofe atômica, angústia constante na fase aguda da Guerra Fria entre EUA e URSS. Passaram-se 66 anos e conseguimos evitar o pior.

Na época de Mounier não se sabia que os homens poderiam liquidar o mundo não só com bombas, mas com o aumento desenfreado da produção econômica e do abuso dos combustíveis fósseis. Quinze dias atrás, ultrapassamos o sinal amarelo no rumo da destruição. A atmosfera registrou 400 partículas de dióxido de carbono por um milhão.

É preciso recuar 4,5 milhões de anos para encontrar concentração comparável. O clima era então muito mais quente, quatro ou cinco graus a mais em média. No ritmo atual, não existe nenhuma possibilidade de limitar o aquecimento global a dois graus como decidido em Copenhague. Se algo não mudar, vamos chegar ao fim do século com 800 partículas e mudança de clima de dimensões que ameaçam a sobrevivência da civilização tal como a conhecemos.

A violação da marca simbólica de 400 por milhão não provocou nenhuma declaração ou alerta de chefes de Estado. Um dia depois, os jornais esqueceram o assunto e voltou-se ao dia a dia como se nada tivesse acontecido. Como explicar tal indiferença diante da morte anunciada que espera o mundo dos homens?

O silêncio é inexplicável numa sociedade na qual a ciência substituiu a religião como crença unificadora. Ora, a ciência climática não permite dúvidas:  de 12 mil estudos científicos sobre o tema em 20 anos, 98,4% confirmam as previsões!

Há muitas explicações para a inércia. Uma delas tem a ver com a natureza da ameaça. Crises como a dos mísseis de Cuba em 1962 precisam ser resolvidas em horas ou dias. Se o presidente Kennedy tivesse hesitado, em poucos dias seria tarde demais. Já o desastre ambiental é como um câncer de expansão lenta: sabe-se que ele está lá, que se nada se fizer, a morte é inevitável. Mas não se sabe o dia nem a hora. Isto é, uma catástrofe em futuro indeterminado carece da força para precipitar soluções difíceis.

O provável por isso é que só haverá ação decisiva para evitar o colapso definitivo depois de uma sucessão de calamidades espantosas. Quando isso suceder, muitas das consequências já se terão tornado irreversíveis como o derretimento das geleiras, a elevação do nível dos oceanos, a inundação de cidades, a desertificação, a extinção de milhares de espécies.

Toynbee lembrava num dos seus últimos livros que nisso os homens deveriam  invejar insetos como as formigas, condicionados do ponto de vista psicossomático a agir coletivamente por instinto de sobrevivência. Estudo recente comprovou que os peixes já estão migrando para o norte em busca de águas mais frias. Enquanto isso, os seres humanos se deslumbram com o avanço em produzir e queimar mais gás a partir do xisto...

A razão talvez esteja com o poeta T.S. Eliot: o mundo acaba não com um estrondo, mas com um gemido.

De 
Rubens Ricupero na Folha de São Paulo de 27/05/2013

sábado, 25 de maio de 2013

Evitando os riscos de um estupro

Evitando os riscos
As mulheres gostam de provocar e de se exibir, mas a sexualidade masculina é mais violenta
É curioso: quando acontece uma tragédia, logo surge uma onda de tragédias iguais ou muito parecidas; agora é a vez desse crime bárbaro que é o estupro.  Desde o horror que aconteceu com a turista americana, outros casos foram surgindo, e ultimamente são os adolescentes que têm aparecido no noticiário por abordar suas colegas de colégio de forma pouco respeitosa -para dizer o mínimo.
Em São Paulo, garotos se comportam de maneira condenável com meninas da mesma escola, sendo que são todos, eles e elas, muito jovens. As famílias das meninas se queixam à diretoria do colégio, que por sua vez procura os pais dos garotos, o assunto chega à imprensa e nada, ou quase nada, é resolvido.
Sobre o assunto, o caderno "Equilíbrio", da Folha, ouviu diversas opiniões. Rosely Sayão, colunista do jornal, se expressou dizendo que "a sexualidade desses jovens está muito exacerbada e eles não têm noção do respeito", e continuou: "a fase dos 13, 14 anos é a pior; é quando a efervescência hormonal se junta à hiperestimulação". Mais adiante, a psicóloga da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Renata Libório se dirige à família e à escola, pregando "por que não respeitar a menina, não importa a roupa que ela usa?" Estão certas as duas, e só me surpreendi ao saber que a sexualidade dos garotos está exacerbada tão cedo: 13, 14 anos? Pensava que nessa idade ainda fossem pouco mais que crianças.
Fiquei pensando: é claro que família e escola devem fazer de tudo para que esses adolescentes respeitem as meninas, mas, sinceramente, é difícil. Basta  ligar a televisão, ler as revistas e ouvir contar que as jovens estão "ficando" com vários garotos nas festas, se gabam de ter beijado cinco, dez ou 15, nem  sei. Outra leiloa sua virgindade, todas se vestem de maneira provocante -e vamos dar esse crédito a Xuxa: foi a partir de seus programas na televisão que a infância começou a ser sexualizada e que as crianças se vulgarizaram, passando a ter, como sonho de consumo, sapatos de saltinho, unhas pintadas, boca vermelha de batom, como verdadeiras chacretes em miniatura.
É claro que o ideal é que as meninas sejam respeitadas, mas, para isso, é preciso também que elas ajudem. As famílias devem orientar os filhos a serem seres civilizados, claro, e ao mesmo tempo ensinar às filhas a não usarem shortinhos, minissaias de um palmo, jeans que mal cobrem a virilha, tops mínimos, camisetas em cima da pele, e por aí vai. Se aos 13, 14 anos, a sexualidade dos meninos está exacerbada, não deve ser só a deles; a delas também. Desde que o mundo é mundo as mulheres gostam de provocar, de se exibir, de se sentir desejadas. Faz parte do jogo. Mas a sexualidade masculina é mais violenta e é aí que mora o perigo.
O mundo não é o que gostaríamos que ele fosse, e os riscos são permanentes, até para quem fica dentro de casa. Quem andar sozinha à noite numa rua deserta vai correr mais risco de ser assaltada; quem se vestir de maneira mais provocante vai correr mais risco de ser desrespeitada; quem abrir a porta de casa sem saber quem está batendo vai correr mais risco de ter sua casa invadida. Os meninos têm que fazer a parte deles, e as meninas, a delas.
E tem uma coisa que vejo nos jornais, mas que não consigo compreender. Estupro em ônibus, como assim? Como é possível haver estupro dentro de um ônibus?

Pois tem.

De Danuza Leão na Folha de São Paulo de 12/05/2013

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Drogas, não há mais inocentes


Segundo pesquisa do Datafolha, o maior temor dos paulistanos --45% dos entrevistados-- é o de que os jovens de sua família se envolvam com drogas. Em pesquisa idêntica há 30 anos, esse temor atingia apenas 23%. Cresceu o uso da droga, mas também a consciência do problema.

Não há mais inocentes sobre drogas. Todo brasileiro conhece alguém cujo filho, sobrinho ou neto se envolveu com elas e está levando a família ao martírio --e ele não gostaria que isso acontecesse na sua família. Mas, se não é inocente, o brasileiro continua desorientado e sem informação. Não sabe o que fazer quando se vê com o problema dentro de casa. Não conhece campanhas de prevenção e, ao contrário, o que mais ouve pela mídia é que "é preciso descriminalizar a droga" --como se, liberada, ela deixasse de devastar o usuário.

A maneira pela qual um jovem se aproxima da droga ainda é um mistério para a maioria dos pais. E, no entanto, é muito simples. Para entendê-la, bastaria que se lembrassem de como, há 30 ou 40 anos, tomaram seu primeiro chope ou acenderam o primeiro cigarro. O mecanismo é o mesmo: para fazer parte da turma, não passar por diferente, mostrar-se mais adulto. A diferença é que o efeito "recompensador" da droga é muito maior e mais imediato. Os que se dão bem com as primeiras experiências tendem a repeti-las.

Dar-se bem significa literalmente não se dar mal --sentir prazer, tolerar bem a agressão tóxica do produto e não sofrer os efeitos negativos, equivalentes aos da ressaca no álcool. Os que apresentam menor tolerância recusarão uma segunda oferta. Alguns jovens se darão melhor com uma droga do que com outra.

E ninguém se torna um usuário puro. Todo consumidor, um dia, oferece de graça a droga a um amigo ou compra um pouquinho a mais para revender. A isso se chama tráfico.

Texto de Ruy Castro na Folha de São Paulo 10/05/2013

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Farinha de trigo, açúcar e cocaína, três pós brancos que matam




Farinha de trigo, açúcar e cocaína


Se um dia alguém resolver erigir um monumento em praça pública às boas intenções frustradas do pensamento científico, podia ser uma estátua monumental de um prato cheio de pó branco. Assim homenagearíamos de uma só vez três enganos cientificistas: a farinha de trigo refinada, o açúcar branco e a cocaína. Três pós acéticos e quase idênticos, três frutos do pensamento que dominou o último século e meio: o reducionismo científico. Três matadores de gente.
Não é por acaso que os três são tão parecidos. Todos eles são o resultado de um processo de “refino” de uma planta – trigo, cana e coca. Refino! Soa quase como ironia usar essa palavra chique para definir um processo que, em termos mais precisos, deveria chamar-se “linchamento vegetal” ou algo assim. Basicamente se submete a planta a todos os tipos de maus-tratos imagináveis: esmagamento entre dois cilindros de aço, fogo, cortes de navalha, ataques com ácido. Até que tenha-se destruído ou separado toda a planta menos a sua “essência”. No caso do trigo e a da cana, o carboidrato puro, pura energia. No caso da coca, algo bem diferente, mas que parece igual. Não a energia que move as coisas do carboidrato, mas a sensação de energia ilimitada, injetada diretamente nas células do cérebro.
Começou-se a refinar trigo, cana e coca mais ou menos na mesma época, na segunda metade do século 19, com mais intensidade por volta de 1870. No livro (que recomendo muitíssimo) “Em Defesa da Comida”, o jornalista Michael Pollan conta como a tal “cultura ocidental” adorou a novidade. Os cientistas ficaram em êxtase, porque acreditavam que o modo de compreender o universo é dividi-lo em pequenos pedacinhos e estudar um pedacinho de cada vez (esse é o tal reducionismo científico). Nada melhor para eles, então, do que estudar apenas o que importa nas plantas, e não aquele lixo inútil – fibras, minerais, vitaminas e outras sujeiras. Os capitalistas industriais também curtiram de montão. Um pó refinado é super lucrativo, muito fácil de produzir em quantidades imensas, praticamente não estraga, pode ser transportado a longuíssimas distâncias. A indústria de junk food floresceu e sua grana financiou as pesquisas dos cientistas, que, animadíssimos, queriam mais.
Sabe por que esses pós refinados não estragam? Porque praticamente não têm nutrientes. As bactérias e insetos não se interessam pelo que não tem nutriente.
Os três tem efeito parecido na gente. Eles nos jogam no céu com uma descarga de energia e, minutos depois, nos deixam despencar. Aí a gente quer mais. Como eles foram separados das partes mais duras das plantas – as fibras – nosso corpo os absorve como um ralo, de uma vez só. Seu efeito eletrificante manda sinais para o organismo inteiro, o metabolismo se acelera.  Aí o efeito vai embora de repente. E o corpo é pego no contrapé.
Cocaína, farinha e açúcar eram O Bem no final do século 19. Eram conquistas da engenhosidade humana. Eram a prova viva de que a ciência ainda iria conquistar tudo, de que o homem é maior do que a natureza, de que o progresso é inevitável e lindo. Cocaína era “o elixir da vida”. Nas palavras publicadas numa revista do século 19, “um substituto para a comida, para que as pessoas possam eventualmente passar um mês sem comer.” Farinha e açúcar davam margem a fantasias de ficção científica, como a pílula que dispensaria o humano do ato animal e inferior de comer.
O equívoco da cocaína ficou demonstrado mais cedo, já nas primeiras décadas do século 20. De medicamento patenteado pela Bayer, virou “droga”, proibida, enquanto exterminava uma população de viciados. A proibição amplificou seus males, transformando-a de algo que afeta alguns em algo que machuca o planeta inteiro, movendo a indústria do tráfico, que abastece quase todo o crime organizado e o terrorismo do globo.
Levaria muito tempo até que os outros dois comparsas fossem desmascarados. Até os anos 1990, farinha e açúcar ainda eram “O Bem”, enquanto “O Mal” era a gordura, o colesterol. Os médicos recomendavam que se substituisse gorduras por carboidratos e o mundo ocidental se entupiu de farinha e açúcar. Começou ali uma epidemia de diabetes tipo 2, causada pelas pancadas repentinas que farinhas e açúcar dão no nosso organismo. Começou também uma epidemia de obesidade. Sem falar que revelou-se que açúcar e farinha estão envolvidos no complô para expulsar frutas, folhas e legumes dos nossos pratos, o que está exterminando gente com câncer e doenças cardíacas. Como câncer e coração são as maiores causas de morte do mundo urbanizado, chega-se à constatação dolorosa: farinha e açúcar são na verdade muito mais letais do que cocaína. É que cocaína viciou poucos, mas açúcar e farinha viciaram quase todo mundo.
Agora os três pós brancos são “O Mal”. A humanidade está mobilizada para exterminá-los. Há até uma nova dieta vendendo toneladas de livros pela qual corta-se todos os carboidratos da dieta e come-se apenas gordura.
Em 1870, caímos na ilusão de que era possível “refinar” plantas até extrair delas o bem absoluto, apenas para nos convencermos décadas depois de que tínhamos criado o mal absoluto. Mas será que o problema não é essa mania humana de separar as coisas entre “O Bem” e “O Mal” em vez de entender que o mundo é mais complexo que isso e que há bem e mal em cada coisa? Trigo, cana e coca, se mastigados inteiros – integrais – são nutritivos e inofensivos e protegem contra doenças crônicas. Precisamos parar de tentar “refinar” a natureza e entender que ela é melhor integral.
Por Denis Russo Burgierman da revista Vejahttp://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/saude/farinha-de-trigo-acucar-e-cocaina/

terça-feira, 7 de maio de 2013

Diretoria do Sindserv SBC age com truculência contra trabalhadores

Diretoria do Sindserv SBC age com truculência contra trabalhadores por Pedralascada  no Videolog.tv.

Em assembleia extraordinária convocada para o dia 30 de abril de 2013, diretoria do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais e Autárquicos de São Bernardo do Campo defende proposta da administração e age com truculência contra trabalhadores, impedindo o direito à manifestação de ideias e à apresentação de propostas. Repare que enquanto alguns diretores do sindicato utilizam da força bruta para impedir a manifestação dos trabalhadores, o presidente do sindicato continua como se nada estivesse ocorrendo ao seu lado. Após defender a proposta da administração, a direção ainda disparatadamente afirma: não vamos abrir para nenhum dos lados...

sábado, 4 de maio de 2013

Os di menor


Punição de menor por crime dura menos tempo no Brasil

País não cria opção para punir com mais rigor menores envolvidos em crime violento



Everton (menor que ateou em dentista em São Paulo)
Foto: Eliária Andrade / Agência O Globo

Everton (menor que ateou em dentista em São Paulo) Eliária Andrade / Agência O Globo
Apesar de ter a maioridade penal igual à do Brasil, um grupo de países da Europa e das Américas possui em suas leis possibilidades de punições mais severas para adolescentes que cometem infrações graves. Há casos em que o tempo de privação de liberdade para menores de 18 anos pode chegar a 15 anos, sem contar países nos quais o que vale é a gravidade do crime, como no caso da Inglaterra. No Brasil, a punição máxima prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é de três anos de internação.


De uma lista de 17 países, apenas Brasil e Alemanha têm limite de restrição de liberdade de três anos. Nos outros, há possibilidade de internações maiores, em especial, para os jovens mais próximos dos 18 anos.
Na Costa Rica, na América Central, por exemplo, um adolescente entre 15 e 18 anos que cometer um crime pode ficar 15 anos internado. No Paraguai, a punição pode chegar a oito anos.
Na Inglaterra, cada caso é considerado a partir das características do crime, independentemente da idade. Na França, o tempo de punição também depende da avaliação do juiz. Nos casos que envolvem adolescentes com idades entre 16 e 18 anos, o magistrado pode, excepcionalmente, julgar o criminoso como maior de idade.
— É válido que ocorra um debate para aperfeiçoar o ECA, e haja mais rigor na punição nos casos mais violentos — afirma Theodomiro Dias Neto, professor de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Manutenção de conquistas obtidas pelo ECA

Dias Neto ressalta, porém, que os menores devem continuar sendo mantidos em instituições separadas dos adultos e que o eventual aumento das punições não pode ser “superestimado” em seus impactos. Por isso, o professor é contra a redução da maioridade penal.
No mês passado, depois de uma série de assassinatos envolvendo adolescentes de 17 anos, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, enviou ao Congresso Nacional uma proposta de mudança no ECA para aumentar a punição de infratores no Brasil. A tramitação apenas inicia.
A Convenção dos Direitos da Criança das Nações Unidas estabelece que os menores de 18 anos devem ter tratamento diferenciado na lei. Segundo Gary Stahl, representante da Unicef no Brasil, apenas Estados Unidos e Somália não são signatários do documento.
— Dos países que têm ratificado a convenção de direitos da criança, a grande maioria respeita essa idade penal de 18 anos. Essa é a convenção mais ratificada da História — afirma Stahl.
De acordo com os dados do Fundo das Nações Unidas, na América Latina, apenas a Bolívia, com 16 anos, e o Peru, com 17 anos, possuem maioridade penal menor que o Brasil. Porém, em El Salvador, por exemplo, uma mudança na lei estabeleceu que o menor que tenha discernimento de adulto possa ser julgado como maior.

Idade mínima para punições é semelhante

A idade a partir da qual o menor pode sofrer alguma punição no Brasil também não foge ao padrão aplicado por países europeus e latino-americanos. O ECA estabelece que a partir dos 12 anos os adolescentes estão sujeitos a sanções. Antes dessa idade, não há punição.
A Inglaterra foge à regra e já permite que as crianças estejam sujeitas a punições se cometerem infrações a partir dos 10 anos. A Suíça também adota a mesma idade.
A lei brasileira não estabelece punição a adolescentes por tipo de crime. Diz apenas que a internação só deve ser adotada por “excepcionalidade” nos casos de “ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa”, ou “reiteração no cometimento de outras infrações graves”, ou ainda “por descumprimento da medida anteriormente imposta”.
De acordo com Gary Stahl, representante da Unesco, estudos feitos por cientistas mostram que o cérebro do adolescente menor de 18 anos ainda está “em desenvolvimento” e não “é 100% responsável” por decisões que toma:
— Muitos sugerem até que essa idade deveria ser maior. Por exemplo, mais de 20 anos.
A Unicef leva em consideração três pontos para avaliar se o país cumpre a Convenção dos Direitos da Criança: os menores devem ser julgados por um sistema jurídico diferente; as penas devem ser inferiores a dos adultos; e os adolescentes não podem cumprir a punição em instituições que tenham maiores presos.
Para Mario Volpi, coordenador do programa de cuidados do adolescente da Unicef no Brasil, alguns países usam artifícios para fingir que cumprem a convenção, mas se utilizam das exceções em suas leis para punir os adolescentes.
— Muitos se valem da criatividade na hora de fazer os relatórios e parecer que seguem as resoluções — critica Volpi.

http://oglobo.globo.com/pais/punicao-de-menor-por-crime-dura-menos-tempo-no-brasil-8289234

Queijos da Serra da Canastra



Otusseziano Freitas de Oliveira levanta todos os dias dia às 6h para ordenhar suas vacas em São Roque de Minas, nascente do rio São Francisco, na Serra da Canastra. A extração do leite, feita manualmente, leva quatro horas. "Tratamos os animais como se fossem gente mesmo, com carinho." O leite então descansa com coalho e o pingo - a cultura de leveduras e bactérias que sobrou do queijo do dia anterior - e vai secando. Primeiro sai o soro, e, no fim do dia, sai o pingo. Cada peça de queijo consome nove litros de leite e o ciclo se renova para Otusseziano, o Otinho, a cada dia. Ele é um dos produtores de queijo da canastra, à maneira tradicional e centenária, com leite cru.

 Ana é dona dos restaurantes Martín Fierro, La Frontera e Jacarandá, em São Paulo, além de entusiasta do queijo canastra. "O queijo da canastra é uma coisa simples e ao mesmo tempo única, especial. Eu quero que os meus restaurantes sejam assim." Ela usa o queijo para rechear empanadas, preparar risotos e sobremesas. E vende as peças de Otinho no mercado que montou no Jacarandá. O problema é que o queijo da canastra, de leite cru, não pode cruzar a fronteira de Minas Gerais, devido à legislação sanitária. Mas é em São Paulo que ele encontra seu grande mercado, comprovado a olhos vistos quando Otinho serviu lascas do queijo que trouxe - um meia-cura (que secou por oito dias) e um curado (que secou por 30 dias) - ao público que acompanhava sua palestra. "Estou vendendo o queijo. Mas se eu for presa quero vocês todos na delegacia para me tirar!", avisa Ana. 

 O imbróglio jurídico é antigo: data da lei que regula a inspeção dos produtos de origem animal, o Riispoa, de 1952. É o que explicou Leoncio Diamante, veterinário que também foi convidado de Ana para falar da cultura tradicional do queijo da canastra - e exaltá-la. Primeiro o elogio do leite cru, a matéria-prima. "Esse leite pasteurizado que vocês tomam em caixinha é um leite morto. Um cádaver. Ele não está vivo, não." O leite cru é que permite que o queijo evolua e alcance complexidade de sabores, disse Leoncio. A cultura de levedos e bactérias nele contida, a partir de oito dias, cura o queijo, isto é, elimina as bactérias ruins e sobrevive na massa. Daí para frente, o sabor do queijo só se intensifica. Outro fator crucial para a qualidade do queijo é o seu terroir - o local em que ele foi feito. Na terra de Otinho, que fica entre 1.015 m e 1.030 m acima do nível do mar, a água fresca da serra da Canastra e a pastagem livre das vacas (além do carinho com que Otinho trata seus animais, é claro) é que dá as notas de sabor características de seu queijo. 

 Veio então um pão de queijo e um pudim de queijo - ambos da canastra, de Otinho - em receitas usadas no Jacarandá, restaurante de Ana, que comentou: "Os usos são infinitos. É só inventar". Falta agora tirar o produto da clandestinidade, lembraram Ana, Leoncio e Otinho - e remunerar de forma mais justa o produtor. A peça de queijo é vendida em São Paulo a R$ 35, dos quais Otinho recebe apenas R$ 8 - o resto fica na mão dos intermediários. Há algo de podre no mundo dos queijos - e, definitivamente, não é o queijo da canastra.

D'O Estado de São Paulo
http://infograficos.estadao.com.br/public/paladar/setimo-paladar-cozinha-do-brasil/sab-queijos-serra.html

quarta-feira, 1 de maio de 2013

MESA VAZIA


Mesmo com a tecnologia a morosidade ainda impera no poder público, a tão desnecessária burocracia prevalece visando garantir autores de ações que precisam ser provadas junto aos órgãos dos quais são subordinados. Criou-se a assinatura digital, instrumento muitíssimo eficiente que substitui assinatura em papeis, o problema me parece estar no individuo não familiarizado com a tecnologia e neste aspecto povo ainda engatinha,  cuja deficiência está presente nas três esferas do poder.
A tramitação de um documento de um órgão para o outro leva um tempo absurdo e continua como na época em que não havia estradas, onde uma correspondência levava semanas para chegar ao seu destinatário.
É possível, o indivíduo familiarizado com a tecnologia, resolver problemas sem se quer  utilizar uma folha de papel, discutir assuntos de grande relevância sem as grandes reuniões,  grande almoço ou jantar; o problema está na burocracia interna de cada setor da sociedade.
Todo e qualquer ato pode vir com assinatura digital, que por natureza dispensa reconhecimento de firma em cartório e para isto precisa-se apenas que o povo tenha conhecimento e instrumentos a sua disposição.

De Raimundo João Cardoso